Com esta dissertação, eu me propus a mostrar a posição ambígua com relação aos judeus de Benito Mussolini, o Duce (1883-1945), fundador do fascismo; a demonstrar que a sua política relativa aos mesmos foi oportunista, e a sua maneira pessoal de julgá-los, não objetiva.
Dividi o tema em seis pequenos capítulos que mostram as suas mudanças de posição quanto aos judeus e ao sionismo desde o início de seu governo em 1922, até as leis raciais discriminatórias de 1938 e as perseguições iniciadas em 1943.
1 – Situação dos judeus italianos em 1922
Vittore Colorni, professor de jurisprudência na Universidade de Ferrara desde 1935, revisando as etapas da emancipação judaica italiana, escreve: Os últimos decênios do século XIX e os primeiros do século XX foram, para os judeus italianos, um período de tranqüilidade e ascensão social, durante o qual todas as profissões e todos os mais altos cargos do Estado, civis e militares, sem excluir o de ministro e senador[1], abriram-se para eles sob aplausos gerais.
Iguais tanto nos direitos como nos deveres, os judeus participaram com grande patriotismo da 1ª Grande Guerra (1914-1918), que para a Itália iniciou-se em 1915...
2 – Os judeus italianos e as idéias fascistas
Com a ascensão do fascismo ao poder em 1922, a situação não pareceu mudar significativamente; a liderança fascista manteve uma atitude de não-envolvimento com a questão judaica.
Renzo de Felice, professor de história contemporânea na Universidade de Roma, escreve em seu livro Storia degli ebrei italiani sotto il fascismo:
Podemos distinguir três fenômenos-chave na história dos judeus italianos com relação ao fascismo:
a) uma substancial ausência de idéias anti-semitas, pouco difundidas na Itália
b) a dispersão dos judeus italianos através de partidos políticos italianos de todas as tendências e, portanto, o seu comportamento com relação ao fascismo não como judeus, mas como italianos.
c) surgimento e lenta afirmação, também entre os judeus italianos, do sionismo, o seu significado e a sua posição com relação ao fascismo.
Com relação ao primeiro ponto, considerando que o anti-semitismo clássico é determinado por motivos religiosos ou por motivos econômicos, tanto um como o outro praticamente não existiam na Itália. Não existiam pela pouca densidade numérica do judaísmo italiano [2], o que o tornava, mesmo nas localidades onde se concentrava em maior número (Turim, Milão, Trieste, Roma) uma ínfima minoria.
Não existiam quanto ao aspecto religioso devido à pouca agressividade dos judeus – boa parte deles não praticante – e por uma certa tolerância inata dos italianos.
Não existiam quanto ao aspecto econômico devido à pouca, ou quase inexistente, presença dos judeus na vida econômica nacional e local.
Quanto ao segundo ponto, a dispersão dos judeus através da grande variedade de partidos políticos italianos de todas as tendências, não era senão uma das conseqüências óbvias da assimilação. Não existindo um anti-semitismo declarado, era óbvio que os judeus não se reunissem em um partido cuja peculiaridade fosse a defesa de seus direitos civis. Assim, todos os partidos abrigaram um certo número de judeus, tanto os de direita como os de esquerda. Os judeus se comportavam politicamente não como uma comunidade, mas como cidadãos individuais e, como tal, como todos os outros italianos.
Relativamente ao terceiro ponto, é importante dizer que o sionismo afirmou-se na Itália com muita lentidão e dificuldade. Durante muito tempo ele teve um caráter acentuadamente filantrópico. A maioria dos sionistas italianos o entenderam sobretudo em um cunho “oriental”, isto é, como a maneira de salvar os correligionários oprimidos. No seu conjunto, por muitos decênios o sionismo italiano teve um pequeno grupo de tenazes defensores com poucos partidários, tendo, mais que tudo, um valor cultural e ideológico, mas pouco prático. Para que ganhasse impulso e muitos seguidores, foi necessária a 2a Guerra Mundial com seus massacres, seus horrores, suas desilusões.
Muitos judeus militaram no fascismo desde os seus primórdios, os quais, com a própria presença, eram de certo modo um “penhor” da fidelidade e do patriotismo de seus correligionários e um “freio” à consolidação de um verdadeiro anti-semitismo. Não se pode esquecer que o fascismo recebeu ajuda material de muitos judeus, tais como Giuseppe Toeplitz, diretor geral da Banca Commerciale Italiana, que se demitiu em 1934, e Bonaldo Stringher, governador da Banca d’Italia.
Na marcha sobre Roma em 1922, participaram (ou pelo menos receberam o atestado de que haviam participado), 230 judeus e, nessa mesma data, estavam inscritos no PNF (Partido Nacional Fascista), ou no Partido Nacionalista (que convergiram para formar o partido fascista em março de 1923), cerca de 750.
É importante ressaltar que o fascismo encontrou muitos seguidores entre os judeus. Este fato pode também ser explicado considerando-se, de um lado, a natureza classista do fascismo de “origem” e, de outro, a natureza acentuadamente “burguesa” do judaísmo italiano. Afinal, justamente esta natureza explica que, se o judaísmo italiano aderiu em grande número ao fascismo, aderiu também em grande número aos partidos e movimentos antifascistas, evitando, em grande parte, as soluções intermediárias.
3 – Mussolini e os judeus no início de seu governo
De acordo com o historiador De Felice, Mussolini pessoalmente não tinha idéias anti-semitas preconcebidas; não tinha especial simpatia, nem antipatia pelos judeus; neles reconhecia toda uma série de elementos e de capacidades no campo econômico-financeiro e, em alguns aspectos, também nutria um grande respeito pelos mesmos como povo. Ao mesmo tempo, não deixava de ter um anti-semitismo tradicional, como muitos homens de sua geração e da sua formação cultural. Esse fato, contudo, não tinha e não teve, até 1936-37, significado político. Além disso havia nele um certo temor, digamos, bastante respeitoso pela “força judaica no mundo”.
Essa sua forma velada de anti-semitismo não teve, porém, conseqüências práticas; não o impediu, por exemplo, de colaborar em publicações de judeus (como em 1908, em Pagine libere de Olivetti) e de ter judeus entre seus amigos e colaboradores mais íntimos, como o advogado E. Jarach e Cesare e Margherita Sarfatti. Margherita, durante muito tempo amante do Duce, foi co-diretora da revista fascista Gerarchia e autora da primeira biografia de Mussolini, intitulada Dux.[3]
Sempre segundo De Felice, é sob a luz desses fatos que se deve observar as pouquíssimas tomadas de posição pró-Mussolini dos judeus nesse primeiro período.
Por serem contraditórias e pouco episódicas, parecem ter pouco significado, mas demonstram a falta, em Mussolini, de idéias claras sobre o assunto e a sua dependência da publicidade e da propaganda, geralmente nacionalista e anticomunista, da época.
Entre essas tomadas de posição, as mais significativas – por sua amplitude, se não por outro motivo – são as publicadas no Il Popolo d’Italia[4] de 4 de junho de 1919, de 19 de outubro de 1920 e de 25 de junho de 1922.
No artigo de 1919, I complici, Mussolini inspira-se nos acontecimentos russos da época para atacar o judaísmo mundial, definindo-o como “a alma” do bolchevismo e, ao mesmo tempo, do capitalismo.
Contrariando o que foi afirmado, no artigo publicado em 1920, Judeus, Bolchevismo e Sionismo Italiano, Mussolini escreve: O bolchevismo não é, como se acredita, um fenômeno judaico. É verdade, porém, que o bolchevismo conduzirá à ruína total os judeus da Europa Oriental. Este perigo enorme e talvez imediato é claramente percebido pelos judeus de toda a Europa. É fácil prever que a decadência do bolchevismo na Rússia será seguida de um pogrom de incríveis proporções...
Ainda no mesmo artigo ...na Itália não se faz absolutamente nenhuma diferença entre judeus e não judeus, em todos os campos, da religião à política, às armas, à economia... A nova Sião, os judeus italianos a têm aqui, nesta nossa adorável terra, que afinal muitos deles defenderam heroicamente com o próprio sangue.
Em 1922, quando a probabilidade de Mussolini alcançar o poder na Itália se tornava cada vez mais próxima, comentando o assassinato de Rathenau pelo extremismo alemão de direita, ele fez do anti-semitismo um aspecto do pan-germanismo e, como tal, não hesitou em condená-lo. Em seu artigo Rappresaglia, ele escreveu: ...em síntese, a política de Rathenau era guiada pela necessidade. Mas os círculos extremistas da direita alemã não podiam perdoar duas coisas a Rathenau. Primeiro, a sua diretiva de política externa, que consistia em fazer todo o possível para cumprir as obrigações do Tratado de Versalhes[5] que, entre outras coisas, determinava as fronteiras da Alemanha. Em segundo lugar, a sua origem semita. Para os extremistas alemães de direita, os quais se consideram de estirpe ariana puríssima, era intolerável que um judeu dirigisse e representasse a Alemanha perante do mundo.
4 – Mussolini e o sionismo
Os anos de 1920 a 1930, foram marcados, de um lado por tensões latentes entre os judeus e o fascismo e de outro, por um progressivo acordo do regime tanto com o movimento sionista como com as comunidades italianas. Antes da tomada do poder por Mussolini, a atividade diplomática dos sionistas europeus era muito intensa. Chaim Weizmann visitou a Itália em 27 de março de 1922, seguido poucos meses depois por Vladimir Jabotinsky, então membro da executiva sionista. Jabotinsky viajou para a Itália especialmente para dirimir as desconfianças manifestadas pela imprensa fascista com relação ao movimento sionista italiano e com a esperança de encontrar-se pessoalmente com o Duce. Sua intenção era comunicar a Mussolini que a Itália, quando fosse estabelecido um governo nacional judaico na Palestina[6], seria o fator essencial no desenvolvimento do Mediterrâneo oriental.
As tensões tiveram origem em uma dupla preocupação de Mussolini. Antes de tudo, o Duce via muitos judeus nas fileiras do antifascismo e temia que sua ligação com a “alta finança judaica” pudesse prejudicar o fascismo. Em segundo lugar, ele julgava os sionistas italianos perigosos por terem uma opinião nacionalista não italiana.
Em todo caso, Mussolini desejava chegar a um acordo, pois queria aproveitar o sionismo em vantagem própria. De fato, ele era atraído pela idéia de adotar o movimento sionista internacional como meio de reforçar a presença italiana no Mediterrâneo oriental. Entre o outono de 1926 e o de 1927, Mussolini encontrou-se novamente com o líder sionista Chaim Weizmann e com Nahum Sokolov (presidente da Organização Sionista Mundial desde 7 de julho de 1920), quando foi fundado o comitê Itália-Palestina. O fascismo havia, naquele momento, feito sua escolha apoiando as aspirações judaicas na Palestina governada pelos britânicos.
Nesta nova atmosfera de entendimento e distensão foram promulgadas, em 1930, disposições legislativas que definiam a nova ordem das comunidades judaicas italianas. A lei satisfazia a necessidade fascista de centralizar o judaísmo em uma única instituição mais facilmente controlável, mas ao mesmo tempo garantia aos judeus italianos uma certa autonomia.
Com o golpe de estado de 3 de janeiro de 1925, a resposta do Duce à acusação de permitir a disseminação das violências fascistas, o Parlamento foi fechado e todos os partidos políticos abolidos. Nesta atmosfera política, Mussolini sentiu a necessidade de normalizar ao máximo o relacionamento com todas as forças sociais do país, inclusive as judaicas.
A estas razões de política interna seguiram-se outras, de política externa. Ainda que na forma de representação, o “lar judaico” na Palestina agora era uma realidade em movimento que o fascismo, um pouco por motivos econômicos, um pouco por motivos políticos e de prestígio, não podia ignorar.
A nova política com relação aos judeus foi ditada também pela falência da política pró-árabe que o governo fascista havia desenvolvido até aquele momento; era difícil convencer os árabes das reais intenções do governo, enquanto o mesmo dava diariamente grandes mostras das próprias intenções coloniais e imperiais e enquanto o exército italiano conduzia a cruel repressão contra o levante árabe na Líbia. Só restava, pois, tentar aproveitar o apoio judaico sionista.
Assim, entre 1927 e 1928 houve uma grande aproximação entre o sionismo e o fascismo. A atitude do governo fascista para com os judeus é expressa, sumariamente, em uma frase de Mussolini proferida durante uma entrevista publicada na revista “Israel” de 24 de maio de 1926: “O problema judaico não existe na Itália”.
O idílio entre sionismo e fascismo, porém, não teria longa duração. Na verdade, no final de 1928 desencadeou-se uma violentíssima campanha de imprensa anti-sionista. O pretexto usado foi o congresso dos sionistas italianos realizado em Milão de 1 a 4 de novembro de 1928, ao qual se seguiu um polêmico artigo publicado no Il Popolo di Roma. O ataque aos sionistas neste caso foi útil a Mussolini, que naquele período procurava agradar ao Vaticano, com o qual havia iniciado importantes discussões que culminaram, em pouco tempo, com o Tratado de Latrão (1929). Mostrar-se alinhado com o sentimento anti-sionista que animava o mundo eclesiástico pareceu a Mussolini a política mais oportuna.
As relações entre fascismo e sionismo voltaram à normalidade após a assinatura do Tratado de Latrão. Publicado e ratificado o acordo, Mussolini e o governo fascista não tinham mais necessidade de determinar a própria política de acordo com os desejos do Vaticano que, em setembro de 1931, acabou se submetendo à orientação do regime fascista. Daquele momento em diante, o regime adotou perante os judeus a política que acreditava mais útil para seus próprios fins, sem absolutamente importar-se com as pressões que, de uma maneira ou de outra, vinham do setor católico. Os muitos contatos que Weizmann teve com Mussolini e com outras personalidades do governo italiano no biênio 1933-1934, tiveram um único resultado prático, mas de grande importância: de um lado contribuíram para dar impulso à indústria química na Itália, e de outro aceleraram e tornaram mais generosa a ajuda que as autoridades italianas davam aos milhares de refugiados judeus que afluíam ao país, seja para encontrar uma nova pátria, seja buscando refúgio enquanto aguardavam a emigração para a Palestina. As autoridades não impuseram nenhum obstáculo burocrático especial, e foram até mesmo oferecidas facilidades para a transferência de capitais dos refugiados judeus. Entre 1931 e 1934 transitaram por Trieste 50.846 judeus que, a bordo dos navios italianos do Lloyd Triestino, foram levados à Palestina, mais de dois terços do total da emigração judaica para a Palestina naqueles anos.
5 – Mussolini e o anti-semitismo
Em 1932 e 1933, as relações entre o fascismo e os judeus na Itália pareciam definitivamente resolvidas. É óbvio que entre fascistas e judeus existiam “opositores”, porém tratava-se de elementos isolados e praticamente excluídos da direção política.
Do lado dos judeus permanecia contrário ao regime o pequeno grupo dos anti-fascistas.
O que fazia com que a situação parecesse melhor para a maioria dos judeus italianos era, no plano internacional, o enfraquecimento da campanha anti-sionista e os repetidos encontros de importantes personalidades sionistas com Mussolini.
Nem mesmo as primeiras manifestações da política fascista da raça provocaram, naquela ocasião, temores ou perplexidade.
Acusações diretas de anti-semitismo contra o fascismo não são encontradas nesse momento, nem mesmo na imprensa anti-fascista da emigração. Apesar de entre os exilados existirem muitos judeus, bem informados sobre a situação de seus correligionários e prontos a perceber melhor do que ninguém o mais leve traço de anti-judaísmo, se houve alguma menção, ela visava não tanto denunciar, como prevenir contra ilusões muito róseas e, sobretudo, combater a tendência de tantos judeus italianos a considerar-se satisfeitos com sua condição, a alienar-se da luta anti-fascista e a dedicar-se somente às “coisas judaicas”.
O progressivo afirmar-se do nazismo na Alemanha havia encontrado na Itália alguns defensores esporádicos, que viam com prazer a possibilidade de que se estabelecesse naquele país um regime nos moldes fascistas. Com raríssimas exceções porém, mesmo entre esses nossos defensores do nazismo, a maioria condenava abertamente o anti-semitismo que o distinguia, igualando-se nesta atitude à grande maioria da opinião pública e da imprensa italiana, de todas as tendências
A posição de Mussolini quanto aos judeus italianos e ao judaísmo em geral não mudou. Não só o Duce não adotou, ainda, qualquer imitação do nazismo – naquele momento o irmão caçula do fascismo – censurando muitas vezes o racismo hitlerista e suas atitudes práticas, mas, ao contrário, procurou intervir para freiar a aplicação das providências alemãs e posicionar-se, oficialmente, como “mediador” entre Hitler e o judaísmo internacional.
Nos anos anteriores a 1937, sempre que as relações entre a Itália e a Alemanha se agravavam, os dirigentes fascistas compraziam-se em salientar a substancial diferença existente entre os dois movimentos apesar da aparente afinidade ideológica, comparando as bárbaras idéias racistas anti-semitas dos nazistas, à tolerância e humanidade com que os italianos tratavam as minorias religiosas e nacionais. E como entre 1933 e 1937 não faltaram motivos de discórdia entre os dois países, foi-se criando uma nova conjuntura política, especialmente favorável não só para os judeus italianos, mas até para os numerosos refugiados judeus que, escapando das perseguições raciais nos países da Europa central e oriental, refugiaram-se na Itália, onde encontraram uma acolhida hospitaleira.
Especialmente favoráveis aos judeus italianos foram os anos 1932-35, quando o regime fascista tomou posição contra o racismo nazista. O ataque de Mussolini às teorias racistas nacional-socialistas tornou-se mais intenso no momento em que o Duce levantou-se como defensor da independência austríaca contra as tentativas de anexação da parte da Alemanha.
O anti-semitismo lentamente começou a reaparecer, em alguns ambientes e em algumas publicações fascistas. O fenômeno, mesmo quando alcançou seu ápice na primeira metade de 1934, foi e permaneceu sempre limitado em número de seguidores e de publicações que o sustentavam e alimentavam.
Ao mesmo tempo, uma campanha anti-sionista, de janeiro a abril de 1934, teve gravíssimas repercussões entre os judeus italianos. A essa campanha pode ser creditada, na verdade, a primeira grande ruptura que, nos anos seguintes, dividiu os judeus italianos e provocou uma crise em muitas comunidades e na própria união. Ruptura que somente será aliviada parcialmente no outono de 1938, quando foi desencadeada a política da raça, e completamente no cadinho cada vez mais tormentoso e dramático dos anos de guerra e da ocupação nazista, quando todos os judeus italianos se encontraram novamente unidos na luta comum pela sobrevivência.
Podemos afirmar que a polêmica anti-sionista e anti-judaica na Itália de 1933 e 1934 surgiu fora do séquito de Mussolini; porém é um fato que, da parte do Duce, não houve qualquer ação para freiá-la ou rechaçá-la.
Ao mesmo tempo, porém, Mussolini auxiliava os judeus alemães, recebia cordial e repetidamente os maiores expoentes do sionismo, Weizmann e Goldmann, com os quais era pródigo em manifestações de simpatia e promessas.
Para Mussolini, o sionismo italiano e o sionismo internacional eram dois problemas diversos, o primeiro de política interna e o segundo de política externa.
Para com o sionismo italiano, o Duce nutria todos os preconceitos e desconfianças tão difundidos entre nacionalistas e fascistas. A convicção de que os sionistas tivessem duas pátrias, cada uma em um plano diferente, sendo que a principal seria a Palestina, chocava profundamente o seu conceito monolítico e exclusivista de Pátria e automaticamente tornava os sionistas antipáticos e suspeitos; a isso se unia outra convicção, a de que, sendo a Palestina a pátria principal, os sionistas seriam facilmente influenciados pela política inglesa; e essas convicções eram acrescidas ainda de sua arraigada aversão pelas organizações de caráter internacional e do temor de que, sendo a enorme maioria das organizações sionistas estrangeiras democrática e anti-fascista, os sionistas italianos pudessem tornar-se um instrumento do anti-fascismo.
Para com o sionismo internacional, ao contrário, Mussolini nutria uma certa benevolência.
À parte a idéia de que a questão judaica e o anti-semitismo atuante ou latente em tantos lugares da Europa pudessem ser a causa de gravíssimas desordens internacionais e que o “estabelecimento” dos judeus na Palestina pudesse evitar essas desordens, ele via no sionismo um ótimo meio para introduzir a Itália nos acontecimentos do Mediterrâneo Oriental e, sobretudo, um meio para criar dificuldades naquela área na Inglaterra. Em um artigo no Il Popolo d’Italia de 8 de setembro de 1933, dedicado ao congresso sionista de Praga, podemos ler: Tudo considerado, o problema dos judeus não pode ter senão uma solução: o Estado judaico na Palestina. As asserções de Praga, condenando qualquer assimilação e proclamando claramente que o judaísmo não é uma religião, mas um povo, se direcionam cada vez mais para esta solução integral e definitiva”.
As relações diretas entre Weizmann e Mussolini terminaram com uma carta enviada ao chefe do governo fascista pelo expoente sionista, alarmado com a notícia de que o duce iria se encontrar com Hitler em Veneza em 14/15 de janeiro de l935. A carta continha um amargurado apelo de intervenção junto ao Führer para induzi-lo a modificar a brutal política anti-semita.
Entre a segunda metade de 1936 e o início de 1937, as relações entre a Itália fascista e o sionismo entraram em uma nova fase. Em 9 de junho de 1936, Mussolini nomeou como Ministro do Exterior o seu genro, Galeazzo Ciano. Este fato teve notáveis repercussões também na política para o sionismo.
6 – Mussolini contra os judeus
Através da Informazione Diplomatica, o boletim adotado pelo regime para comunicar suas escolhas na política exterior, foram divulgadas, a partir de outubro de 1937, algumas notas relativas a questões internacionais. Os textos tinham a evidente intenção de informar publicamente, na Itália e no exterior, a posição do regime fascista sobre essas questões, eram publicados sem assinatura, e eram redigidos por Mussolini ou pelo responsável desse setor, Galeazzo Ciano.
Para comprovar a atitude ambígua de Mussolini, é interessante transcrever por inteiro a Informazione Diplomatica no.14, de 16 de fevereiro de 1937:
Recentes polêmicas jornalísticas suscitaram em alguns ambientes estrangeiros a impressão de que o governo fascista esteja a ponto de iniciar uma política anti-semita. Nos círculos responsáveis romanos pode-se afirmar que tal impressão é completamente errada e consideram-se as polêmicas como provocadas sobretudo pelo fato de que as correntes do anti-fascismo mundial normalmente têm origem nos elementos judaicos. Os círculos responsáveis romanos consideram que o problema judaico universal será resolvido de uma só maneira: criando em alguma parte do mundo, não na Palestina, o Estado judaico; Estado no pleno sentido da palavra, em condições, portanto, de representar e defender, pelas vias diplomáticas e consulares usuais, todas as massas judaicas dispersas por diversos países.
Como também na Itália existem judeus, isso não significa que exista um problema judaico especificamente italiano. Em outros países os judeus se contam aos milhões, enquanto na Itália, em uma população que já atinge os 44 milhões de habitantes, a massa dos judeus oscila entre 50/60 mil unidades.
O governo fascista jamais pensou, nem pensa em adotar, medidas políticas, econômicas, morais, contrárias aos judeus como tal, com exceção, bem entendido, dos casos em que se trate de elementos hostis ao regime.
O governo fascista, além disso, é decididamente contrário a qualquer pressão, direta ou indireta, para conseguir retratações religiosas ou assimilações artificiosas. A lei que regula e controla a vida das comunidades judaicas deu bons resultados e permanecerá inalterada.
O governo fascista se reserva o direito de vigiar a atividade dos judeus chegados recentemente ao nosso país e de verificar que a parcela de judeus na população da nação não se torne desproporcionada aos méritos intrínsecos dos indivíduos e à importância numérica de suas comunidades.
Em maio de 1938, Hitler foi a Roma para retribuir a visita de Mussolini a Munique em 25 de setembro de 1937 para consolidar o pacto com a Alemanha, o Eixo Roma-Berlim de outubro de 1936. Historicamente não existe prova de conexão direta entre a visita e a opção nazista do regime (segundo muitos historiadores, começando por De Felice, seria injusto imputar a responsabilidade da Itália e do fascismo a Hitler). O fato é que, no mês seguinte, uma delegação de peritos alemães em racismo veio à Itália para instruir funcionários italianos sobre esta pseudo-ciência.
Apenas dois meses depois, e em completa contradição com o que havia sido afirmado no documento no.14, em 14 de julho de 1938 foi publicado o Manifesto della Razza assinado por um grupo de professores. Uma premissa concisa informava que ele havia sido redigido por um grupo de estudiosos fascistas, docentes de universidades, que havia trabalhado sob a égide do Ministro da Cultura Popular, e que o texto determinava a posição do fascismo diante dos problemas da raça. Em dez pontos, afirmava-se a existência das raças humanas, selecionadas de acordo com um conceito puramente biológico. Também era confirmado que a população e a civilização italianas eram, em sua maioria, arianas, e que havia chegado a hora dos italianos se declararem francamente racistas.
Sem dúvida, Mussolini também procurou agradar seu novo aliado alemão, mas os judeus italianos não foram sacrificados simplesmente pela “brutal amizade” de Hitler. Em busca de uma fórmula que atasse suas próprias mãos indecisas, criasse um obstáculo intransponível entre não judeus e judeus na Itália, e lhe permitisse livrar-se de todos estes últimos de um só golpe, Mussolini recorreu ao racismo[7], que ele agora via como politicamente proveitoso.
Em 25 de julho foi publicado um comunicado do PNF com o qual era lembrado que o fascismo adotava, praticamente já há dezesseis anos (!!) uma política racista que consistia – através de ações das instituições do regime – em realizar um contínuo melhoramento quantitativo e qualitativo (!!!) da raça... que o regime havia seguido o seu objetivo fundamental: antes a ação, depois a formulação doutrinária, a qual não deve ser considerada acadêmica, isto é, como um fim em si mesmo, mas como determinante de uma ulterior ação política precisa... Quanto aos judeus, os mesmos se consideram há milênios, em toda a parte e também na Itália, como uma raça diversa, e é notório que, apesar da política tolerante do regime, os judeus constituíram, em todas as nações – com seus homens e seus meios – o estado maior do anti-fascismo.
Um outro comunicado, publicado em 26 de julho, teve uma resposta crítica com relação ao racismo da parte do papa Pio XI. Em um artigo publicado no Osservatore Romano em 29 de julho, o papa comentou: Podemos nos perguntar como, desgraçadamente, a Itália tenha tido necessidade de imitar a Alemanha.
Como se fosse uma resposta ao comentário de Pio XI, em 31 de julho os jornais italianos informaram que, durante uma visita a um campo de vanguardistas graduados de Forlí. o Duce havia declarado: Sabei, e que cada indivíduo saiba, que também na questão da raça, nós seguiremos adiante. Dizer que o fascismo imitou alguém ou alguma coisa é simplesmente absurdo.
Ainda em julho, foi lançada uma edição especial dos Protocolos dos Sábios de Sião e, para difundir a teoria racial, nova para os italianos, em 5 de agosto, 22 dias após o Manifesto, saiu o primeiro número da revista La Difesa della Razza, um jornal através do qual, entre 1938 e 1943, Telesio Interlandi, um jornalista fascista e anti-semita feroz, procurou encaminhar os italianos ao culto da pureza étnica.
Em 22 de agosto de 1938, segundo os critérios do Manifesto racista, foi feito um recenseamento dos judeus dentro do quadro de encaminhamento da política anti-judaica de Mussolini. A finalidade principal desse recenseamento era identificar, contar e registrar os judeus da Itália. O resultado totalizou 57.425 pessoas, nascidas de pelo menos um genitor judeu. Porém considerando aqueles que eram efetivamente judeus quando do recenseamento, o total era de 46.189.
Nos dias 1 e 2 de setembro de 1938, foram aprovadas as disposições legislativas racistas e anti-judaicas. As primeiras foram as decretadas contra os judeus estrangeiros e pela defesa da raça na escola fascista, com a conseqüente fundação de escolas primárias para as crianças da raça judaica.
Outras leis se seguiram. Em 17 de novembro, disposições relativas aos casamentos e a declaração sobre quem devia ser considerado de raça judaica. Em 22 de dezembro, disposições relativas à baixa e à aposentadoria dos militares de raça judaica das Forças Armadas do Estado. Em 9 de fevereiro de 1939, normas de atuação das disposições relativas aos limites de propriedade imobiliária e de atividade industrial e comercial para os cidadãos italianos de raça judaica. Em 29 de junho de 1939, a lei sobre a disciplina do exercício das profissões por parte dos cidadãos de raça judaica. Em 13 de julho de 1939, disposições sobre matéria testamental, bem como sobre a disciplina dos sobrenomes para os pertencentes à raça judaica. Em 19 de abril de 1942, a exclusão dos elementos judaicos doa campo dos espetáculos.
Em 10 de junho de 1940, a Itália entrou na guerra. Mussolini aumentou a perseguição aos direitos dos judeus, instituindo, naquele mesmo mês, a internação dos judeus italianos julgados perigosos para o regime, e dos judeus estrangeiros cujos países tinham uma política anti-judaica. Campos de concentração foram abertos por toda a Itália, enquanto muitos judeus eram encarcerados nas prisões das maiores cidades. Em maio de 1942, os judeus com idade entre os 18 e 55 anos foram chamados para prestar serviços forçados.
Em agosto de 1942, os alemães pediram que os italianos entregassem às autoridades alemãs-croatas os judeus que haviam se escondido na Dalmácia, na zona de ocupação italiana, e um memorando sobre o assunto, revelando o terrível destino que esperava os judeus, foi submetido a Mussolini. Ele rabiscou na margem: “nulla osta” (sem objeção).
As leis discriminatórias continuaram. Em 9 de outubro de 1942, relativas às limitações de competência dos pertencentes à raça judaica residentes na Líbia (colônia italiana) e, finalmente, em 4 de janeiro de 1944, novas disposições referentes aos bens possuídos por cidadãos de raça judaica.
Em 25 de julho de 1943, Mussolini foi destituído e o partido fascista dissolvido. O governo Badoglio liberta os prisioneiros judeus, revoga as leis que prevêem o trabalho obrigatório e os campos de internação, mas – não obstante as solicitações dos partidos anti-fascistas – deixa em vigor as leis raciais, que não são revogadas nem pelo rei. Badoglio escreveu em suas memórias que não era possível, naquele momento, chegar a uma revogação pública das leis raciais, sem um choque violento com os alemães.
Após o armistício de 8 de setembro de 1943, o governo Badoglio cede às solicitações dos Aliados e, para os judeus refugiados no sul, terminam as perseguições. O artigo 31 do assim chamado armistizio lungo (armistício extenso) é claro sobre o assunto: Todas as leis italianas que implicam discriminações de raça, cor, religião e opiniões políticas serão, se já não o foram, revogadas.
E realmente, em 24 de novembro de 1943, o conselho dos ministros começa a revogar as leis raciais.
No centro-norte ocupado pelos alemães, porém, a situação dos judeus se agrava ainda mais. Mussolini é colocado como chefe-fantoche da República Social Italiana (Rsi), com sede em Saló (próximo a Brescia), mas quem manda são os alemães.
Em 23 de setembro, a RSHA, a central de polícia alemã que dirigia a política anti-judaica, comunica que os judeus de cidadania italiana estão imediatamente sujeitos às medidas em vigor para os outros judeus europeus.
Em março de 1944, Mussolini dá um outro grave passo. Ele institui um Ufficio per la Razza (Escritório para a Raça), subordinado à Presidência do Conselho, nomeando como chefe o super racista Giovanni Preziosi, que sustenta abertamente que o “primeiro dever” da Rsi é o de eliminar os judeus. Preziosi se empenha em enviar aos campos de concentração não somente os judeus puros, mas também os cidadãos de origem mista e em confiscar os bens até mesmo dos judeus “arianizados”.
7 – Apêndice
Para terminar esta dissertação, considero importante acrescentar alguns dados sobre o comportamento da opinião pública e dos judeus diante da legislação racista.
Não obstante a propaganda anti-semita, seja através do rádio ou dos jornais e revistas, bombardeasse sem tréguas a população italiana, esta não acolheu favoravelmente as disposições do governo. Em geral não houve tomadas de posição muito críticas, e a opinião pública limitou-se a atitudes de perplexidade e mal-estar que se traduziram em uma grande indiferença.
Quanto aos intelectuais que haviam aderido ao fascismo, poucos foram os que ousaram exprimir seus protestos contra as medidas racistas. A maioria preferiu calar-se ou aprovar as ações do regime para mostrar-se ou fazer carreira. O único que resguardou a honra da classe intelectual italiana foi o grande filósofo Benedetto Croce, que, tendo recebido o questionário para o recenseamento racial dos componentes das várias academias, respondeu em 21 de setembro de 1938 ao presidente:
Recebi hoje o questionário que deveria ter devolvido antes do dia 20. De qualquer maneira eu não o teria preenchido, preferindo deixar-me excluir como suposto judeu. Há algum sentido em perguntar a um homem que tem cerca de sessenta anos de atividade literária e participou da vida política de seu país, onde e quando nasceu e outras coisas semelhantes? O único efeito da declaração solicitada seria o de fazer-me corar, constrangendo-me, eu, cujo sobrenome é Croce, ao ato odioso e ridículo de protestar que não sou judeu, justamente quando esse povo é perseguido.
E restituiu o questionário racial.
O comportamento da minoria judaica atingida pela legislação racista foi complexo. O judaísmo italiano encontrou-se despreparado diante das leis raciais porque jamais havia considerado o fascismo um inimigo. Diante da tragédia que se anunciava, os judeus italianos estavam surpresos e incapazes de entender o próprio sentido dos acontecimentos.
A perseguição estava tão longe dos pensamentos, da história, das tradições italianas, que a maioria dos judeus italianos não podia sequer conceber a idéia.
Entender a situação foi mais fácil para aqueles que possuiam uma profunda cultura judaica, para os sionistas, e para aqueles que sempre haviam tido uma maior consciência dos problemas políticos, e se davam conta das conseqüências que adviriam de uma aproximação com a Alemanha. Aceitar a realidade foi difícil para as camadas mais conformistas, mais assimiladas e menos politizadas, para as quais o regime representava o símbolo do estado que os havia emancipado há menos de cem anos.
Ainda mais difícil foi a aceitação do anti-semitismo de estado por parte dos judeus fascistas, os quais mais uma vez se iludiram pensando que sua fidelidade servil e oportunística ao regime poderia salvá-los. Os jornais judaicos fascistas, La nostra bandiera e Davar, acusavam os correligionários não comprometidos com o fascismo e os sionistas, de serem responsáveis pelos acontecimentos. Estas declarações levaram os mais temerosos e mais assimilados a abjurar, a dissociar-se, ou a converter-se ao catolicismo, com a esperança de escapar às perseguições.
Contudo, as leis raciais contribuíram para afastar os judeus italianos do regime fascista e a despertar parte dos mesmos do conformismo no qual haviam caído. Alguns milhares, na maioria das classes burguesa e intelectual, emigraram para a Palestina e para o continente americano. Alguns deles mantiveram contato com os grupos de expatriados antifascistas com os quais estabeleceram uma intensa colaboração, outros se alistaram nas forças armadas aliadas. Não poucos foram os que, permanecendo na Itália, juntaram-se às fileiras dos movimentos e dos partidos antifascistas clandestinos, empenhados em uma luta em nome não só da democracia, da liberdade e da justiça, mas também da sua identidade judaica.
A maior parte dos judeus italianos permaneceu nos próprios postos, confiando que as providências fossem transitórias e que a situação na Itália jamais levaria à grave situação que se desenhava na Alemanha.
Termino esta dissertação com as palavras da historiadora americana da Columbia University, Susan Zuccotto, extraídos de seu livro L’Olocausto in Italia:
... também na Itália houve o Holocausto. Teve suas raízes nas leis raciais impostas pelo ditador fascista a uma população relutante. Alcançou o ápice somente durante a ocupação alemã... um período que trouxe à superfície os piores elementos da sociedade (italiana) e intimidou todos os outros. Foi contestado por indivíduos corajosos que salvaram milhares de vidas. Todavia o Holocausto ocorreu, apoiado pelo governo e pela imprensa, executado por milhares de fanáticos e tolerado por uma maioria aterrorizada, preocupada ou indiferente. O Holocausto na Itália foi um fenômeno confuso... um misto de coragem e velhacaria, generosidade e degradação, abnegação e oportunismo. Em contraste com o que aconteceu em outros países, talvez, o comportamento mais digno contrabalançou aquele mais indigno: mas os horrores, contudo, pertencem à realidade.
Anna Rosa Campagnano Bigazzi
O desenvolvimento da dissertação foi feito através da compilação de textos italianos, adaptados e intercalados entre si. Os textos foram extraídos dos seguintes livros e traduzidos do italiano por flora Martinelli:
Biagini, Furio – Mussolini e il sionismo 1919-1938 – M&B Publishing S.r.l. Milão, 1998.
Capristo, annalisa – L’espulsione degli ebrei dalle accademie italiane –
Editore Zamorani, Turim, 2003.
De Felice, Renzo – Storia degli ebrei italiani sotto il fascismo – Ed.Einaudi, Turim, 1993.
Molinari, Maurizio – Ebrei in Italia: un problema d’identità (1870-1938) –
Editora Giuntina, Florença, 1991.
Sarfatti, Michele – Mussolini contro gli ebrei. Cronaca dell’elaborazione delle leggi del
1938 – Ed. Silvio Zamorani, Turim, 1994.
Tagliacozzo, Franca – Migliau, Bice – Gli ebrei nella storia e nella società contemporanea
Ed. La Nuova Italia, Florença, 1993.
Zuccotto, Susan – L’Olocausto in Italia – Ed. Arnoldo Mondadori, Milão, 1988.
Traduzido do italiano por Flora Martinelli.
[1] Como no caso de Guido Jung, ministro das finanças em 1932, e dos senadores Ugo Ancona e Achille Loria.
[2] De acordo com o censo oficial de 1911, havia 32.825 judeus; em 1931, 39.112; no censo de 1938, efetuado pela direção geral para a demografia e a raça do Ministério do Interior – conhecido como Demorazza – foram registrados 57.425 como tendo pelo menos um dos progenitores judeu, e 46.189 efetivamente judeus.
[3] Este livro é encontrado na biblioteca de história da USP.
[4] Il Popolo d’Italia, fundado por Benito Mussolini em 1915 é peculiar por ter sido, em um preciso momento da história italiana, o jornal mais lido e seguido em todo o país. De suas colunas, o futuro duce sustentava a necessidade de um novo movimento nacionalista.
[5] O tratado de Versalhes foi assinado em 28/06/1919 entre a Alemanha e as potências vitoriosas na 1a Grande Guerra, entre elas a Itália.
[6] Declaração Balfour de 2 de novembro de 1917, entregue pelo secretário do exterior britânico a Lord Rotschild: “O governo de Sua Majestade considera favoravelmente o estabelecimento, na Palestina, de um lar nacional (national home) para o povo judaico e empregará seus melhores esforços para facilitar a realização deste objetivo, ficando claramente entendido que nada será feito que possa trazer prejuízo aos direitos civis e religiosos das comunidades não judaicas existentes na Palestina, ou aos direitos e à situação política de que desfrutam os judeus em qualquer outro país.”
[7] É necessário ressaltar, porém, que o racismo na Itália teve origem desde que, em 1889, a Itália ocupou a Eritréia, e continuou com a guerra Italia-Etiópia de 1935-1936. Naquele período, ele era dirigido contra a população negra: o negro era visto como o inimigo selvagem da triunfante civilização de Roma.
Obrigado por seu trabalho por este tremendo documento.
ResponderExcluirMe ajudou muito. Trouxe a luz o que estava escondido.
Sou simpatizante do fascismo, porém acho um absurdo as leis segregacionistas e anti judaicas, uma vez que muitos judeus italianos eram comprometidos com a causa nacional, e certamente foi injusto atacar todo o grupo étnico em vez de se combater apenas os traidores (comunistas, liberais, etc), dos quais eram presentes em todos os grupos étnicos e não só nos judeus.
ResponderExcluirE quanto às execuções, ocorreram depois de 43, quando a Itália foi ocupada pela Alemanha, e perdeu completamente sua autonomia. Os massacres vieram por serem praticados pelos alemães, sendo que em muitos casos os italianos protegiam e escondiam os judeus.
Eu concordo com as críticas de Hitler quanto ao papel dos judeus no comunismo, e a sua super representatividade, mas de fato acho que perseguir todos os judeus seja algo extremamente desnecessário e prejudicial.
Concordo plenamente com o Luciano Silvestri, sou simpatizante do fascismo, e sou contra leis segregacionistas e anti judaicas porem para se combater o Comunismo que é o cancer do mundo e que existe em qualquer lugar e etnia foram perseguidos todos os judeus e não somente os judeus comunistas.
ResponderExcluirAntes da ocupaçao alemã na Italia os judeos eram parte integrante do povo, da sociedade, das artes, dos poderes e da politica iTALIANA. atribuir isso tudo a Mussolini é um erro grotesco.