TRATUTOR

quinta-feira, 3 de março de 2011

Línguas faladas pelos judeus na Itália

Até a época de Constantino (306-337 d.C.), são poucas as notícias sobre a história dos judeus na Itália, especialmente em Roma. Pode-se afirmar somente que sua posição permaneceu inalterada, isto é, que o judaísmo continuou sendo tolerado pelo Estado e, por isso mesmo, sendo protegido pelas leis. Para sabermos mais, podemos recorrer a uma rica fonte, que é a das inscrições que os cemitérios romanos guardaram para nós.[1]
É interessante notar que as diferenças da falas judaicas (Na Itália) nunca foram marcadas por características lingüísticas. Julgando pelos textos recolhidos pela estudiosa Dwora Gilula, que escreveu um texto sobre La satira degli ebrei nella letteratura latina [2] (A sátira dos judeus na literatura latina):

os judeus de Roma não falavam uma língua estrangeira (...) Não apenas não se mencionam falas especiais dos judeus, nada se diz também de jargões ou pronuncias características. A velha judia que sussurra ao ouvido da matrona romana os seus segredos, falava latim[3], ou grego, a língua mais difundida entre judeus e também nas classes superiores romanas (...). Com relação aos judeus as diferencias das falas ou os barbarismos não eram sinais de reconhecimentos dignos de serem ridicularizados em Roma. 

Os judeus que se estabeleceram na Itália nos primeiros séculos da era cristã, falavam o grego e o latim, enquanto o hebraico era muito pouco usado. Realmente, pelos raros vestígios achados nas lápides das catacumbas judaicas em Roma, podemos comprovar que nenhuma tem inscrições inteiramente em hebraico e somente uma as tem em aramaico.
Confirmando o fato, Attilio Milano escreve:

“...Deve ser mencionado também que, em Roma, três quartos das inscrições eram redigidas em grego, e somente um quarto em latim. O grego, língua franca do comércio em toda a bacia mediterrânea, devia ser a língua em uso entre os judeus italianos, no mínimo em seus ambientes mais restritos, enquanto o latim era usado principalmente nas relações com a administração romana. Isso não exclui que, até no mínimo o século IV, parte do serviço litúrgico também fosse conduzido em grego, como o foi entre os cristãos até o século III (...). Por outro lado, as inscrições não revelam nenhum traço de uma possível fala usada pelos judeus. Pode-se afirmar que o grego era muito conhecido pelos judeus romanos até como simples alfabeto, pois muitas epígrafes são escritas em latim, mas transliteradas com caracteres gregos. Dados mais precisos sobre o uso do hebraico podem ser encontrados no sul da Itália, particularmente em Venosa, onde as lápides funerárias encontradas apresentam inscrições redigidas totalmente na língua sagrada. Como estas inscrições fazem referência à presença de rabinos e mensageiros (apóstolos) provenientes da Palestina e da Mesopotâmia, podemos deduzir que Venosa foi um dos centros nos quais, a partir do século V, iniciou-se o renascimento da cultura judaica que, depois, se desenvolverá em toda a Puglia e a Calábria.”[4]

Nas lápides das catacumbas romanas verifica-se que no mínimo a metade dos nomes usados pelos judeus era de origem latina, um terço do restante de origem grega, e somente o pouco remanescente de origem hebraica. A predominância de nomes latinos nesse período indica o notável conformismo dos judeus italianos com a vida e os costumes do país que habitavam. Sabe-se, de fato, que os judeus tanto mais preferem dar aos filhos nomes retirados do repertório bíblico, quanto mais obrigados são a viver segregados do restante da população gentia, buscando somente no próprio patrimônio de tradições a inspiração para resistir às dificuldades externas.

Uma outra explicação para a predominância dos nomes latinos sobre os hebraicos nos é dada por Berliner:

“...Na capital – e isto é notório – a população judaica original não era formada por judeus palestinos, ou seja, por aqueles que chegaram a Roma em massa imediatamente antes e após a catástrofe (70 d.C.), espontaneamente ou como prisioneiros. O componente mais antigo era constituído por judeus vindos da Ásia Menor, de Alexandria e das ilhas, os quais, além de tudo, tinham formação helenística e usavam o grego para o culto e a leitura da Bíblia. Foi justamente em contraposição a eles que surgiu a “sinagoga dos judeus”, ou seja, a comunidade daqueles que, nas reuniões, conservavam a língua hebraica.”[5]

O prof. Giuseppe Sermoneta[6], procurando material composto em italiano e transcrito em letras hebraicas na microteca judaica da Universidade de Jerusalém[7], encontrou a tradução de uma composição litúrgica que os judeus da Sicília tinham o hábito de rezar no dia de Pentecostes, chamada de Alfabetim.
Sermoneta afirma:

“Pelo que me consta, é esse o único testemunho de um texto completo e orgânico transmitido por escrito e criado pelos judeus sicilianos na língua da qual se serviram durante a Idade Média, até sua expulsão da ilha, que aconteceu em 1492. (...) Propositadamente não enfrentei o problema da data de composição da tradução, devido à absoluta falta de referência cronológica no texto. O único padrão de julgamento, a esse respeito, pode ser a língua da tradução, que, em muitos aspectos, parece ser a das composições em siciliano vulgar que pertencem ao século XIV. O original aramaico dessa tradução foi composto entre o terceiro e o quinto séculos  d.C.” [8]

Existiam também as Kinnot, preces e hinos de pesar muitas vezes associados com os serviços e as funções religiosas do mês de Av (julho-agosto). Varias elegias desse tipo foram compostas na Itália na Idade Média; a  linguagem era o dialeto local italiano escrito em caracteres hebraicos. Foram achadas elegias em dois manuscritos, cujas datas de composição (fim do século XII e inicio do século XIII) são incertas.

Outros exemplos podem ser obtidos nas traduções dos Rituali (livros de orações), de caráter popular e destinadas especialmente às mulheres, que tinham pouco conhecimento do hebraico.

A literatura pós-bíblica em hebraico originou-se do desejo dos religiosos de adorar Deus tanto na congregação como em particular. Aparentemente, os religiosos sentiram a necessidade de expressar seu amor e adoração com poemas litúrgicos, muitas vezes baseados em histórias bíblicas. Esse tipo de composição foi chamado de piyyut, por serem compostas pelos payyetanim, que eram numerosos na Idade Média. O piyyut não é parte integrante da liturgia hebraica, mas representa um elemento ocasional nas festas e dias especiais, e, no Midrash, o piyyut é considerado uma narração.

Os primeiros piyyutim em língua judaico-italiana foram compostos no sul da Itália, de onde estas composições chegaram até Roma, espalhando-se depois para o centro e o norte da Itália. Os piyyutim eram divididos em categorias especiais segundo o argumento, o conteúdo e o lugar que ocupavam na liturgia.

Notícias mais importantes sobre os judeus de Roma aparecem no fim do século V, ou seja, quando o papa Gregório Magno (590-604) emite a bula Sicut Judaeis, por  meio da qual é enunciado um princípio de justiça que se fará presente com freqüência nos sucessivos decretos pontifícios.

Luisa Cuomo, Ph.D. da Universidade Hebraica de Jerusalém, profunda estudiosa de lingüística, (sem considerar os documentos lingüísticos e literários de judeus italianos destinados também ao público não judaico, como, por exemplo, os sonetos de Imanuel Romano e os diálogos de Leone Ebreo), divide a documentação relativa ás línguas usadas pelos judeus na Itália no período que vai da Alta Idade Média ao fim do Renascimento, em três grupos de textos:
1º - grupo bilíngüe “ in praesentia” [9],  formado por:
                         a - glossas vulgares, mais ou menos esporádicas, que são inseridas como  
                         explicações de termos particulares em textos escritos em hebraico. 
                         Podem ser achadas no corpo do texto e às margens, segundo o uso
                          medieval;
                         b – glossários, mais ou menos sistemáticos, onde alguns termos hebraicos,
                         extraídos de um determinado texto e, em geral, de acordo com a ordem na qual
                         aparecem, têm ao lado o correspondente termo em vulgar;
                         c – glossários, mais ou menos sistemáticos, classificados em ordem alfabética
                         por assunto.[10]

Este grupo aparece no sul da Itália entre o século X e o século XI com as poucas glossas de Josifòn[11] e as contidas nas obras de Shabbetai Donnolo[12].  A documentação se faz mais rica entre os séculos XI e XII e, nesse período, podem ser citadas as numerosas glossas contidas no primeiro dicionário talmúdico, o Arukh, assinado por Nahtan ben Jehiel de Roma[13] em 1101/1102. Além desse, o Galuth Yehudàh, glossário bíblico modernizante composto por Leone da Modena[14] no século XVI e já escrito em grafia latina. Estes textos são obras heterogêneas onde prevalecem, nos primeiros séculos, alem das obras históricas e médico-cientificas, obras filosóficas como o glossário Sekkel Tov de Menahèm ben Solomon[15], os comentários de Isaia da Trani [16] e obras de caráter halakhico, como o glossário do Misnek Torah de Maimônides, composto provavelmente por Yehudá Romano[17] na primeira metade do século XIV . Mais tarde aparecem obras propriamente bíblicas e as gramaticais, entre as quais o “Livro das Formas Verbais[18], cuja cópia mais antiga remonta ao século XIV.
Um exemplo de verdadeiro dicionário bíblico alfabético (hebraico-francês e hebraico-catalão) de acordo com critérios lingüísticos que poderiam ser definidos como “modernos”, é o Maqré Dardequé[19], impresso em Nápoles em 1448, mas escrito entre os séculos XIV e XV.

2º -                   grupo, bilíngüe “in absentia”,  formado essencialmente por extensas
                         traduções de trechos ou livros inteiros da Bíblia, de midrashim, de
                         livros de rezas encontrados entre os séculos XV e XVI. 

3º -                   grupo, muito pequeno, constituído por composições originais, voltadas
                         exclusivamente ou prevalentemente ao ambiente judaico italiano: trata-se
      de composições poéticas, das quais a mais antiga e famosa é a Elegia de 9 de
      Av. [20] (Anexo n. 4)

Em todos estes grupos o texto vulgar é escrito por meio do sistema gráfico hebraico, ou seja, servindo-se das letras do alfabeto e dos signos vocálicos e diacríticos em uso nos textos escritos em hebraico. Somente no fim do período examinado começam a aparecer algumas exceções e se fazem sempre mais freqüentes exemplos de grafia latina. A escrita hebraica se encontra tanto nos textos bilíngües “in praesentia”, como nos outros e, neste caso, tanto nos códices onde, além do texto vulgar, há textos em hebraico, como nos que contém  somente o texto vulgar. O uso do sistema gráfico hebraico caracteriza também algumas transcrições de trechos literários italianos inseridos em obras hebraicas.

Sempre segundo a prof. Luisa Cuomo (na minha opinião a mais científica e profunda estudiosa deste assunto), o período moderno, que nos interessa neste estudo, nos oferece documentos de natureza completamente diferente, que podem ser divididos em dois grupos:

- um conjunto de expressões características das falas dos judeus nas diferentes comunidades italianas, de Roma para cima, registradas por cultores das tradições hebraicas a partir do fim do século XIX.
Trata-se de resíduos de falas judaico-italianas, como os define Benvenuto Terracini[21], onde estão evidentes termos hebraicos, mais ou menos adaptados ao contexto italiano, que caracterizavam a fala afetiva, coloquial e familiar, de falas em ação.

- um segundo grupo constituído por textos literários, na maioria comédias e poesias que podem ser consideradas como recompostas, ou seja, compostas no século passado (fim do século XIX), com a intenção de recuperar e estabilizar alguns aspectos característicos do folclore e das falas judaicas em vias de desagregação.
Tais são os sonetos em bagito de Bedarida para Livorno e de Crescenzo Del Monte para Roma, as comédias dos filhos de Cassuto para Florença e de Polacco para Veneza.
Hoje, como ficou evidente em outras comunidades lingüísticas, os judeus da Itália não identificam mais sua própria autonomia sócio-cultural na sociedade italiana, com uma paralela autonomia lingüística, no interior do sistema local. A tendência parece eventualmente dirigida para o hebraico-israeliano de base. Este, juntamente com o hebraico dos textos tradicionais, revela-se como um sistema lingüístico que começa, progressivamente, a agregar os judeus dispersos pelo mundo.




III – 2  Dialetos judeu-italianos

Em 1890, o famoso lingüista Isaia Ascoli[22] convenceu o então Ministro da Educação, Boselli, a destinar o valor de 16 mil liras para um concurso entre os autores dos melhores dicionários dialetais. Ele dizia que
 a linguagem contém todos os pensamentos de um povo, seus sentimentos e suas dores; é como a fotografia vivente de sua alma... Os dialetos são línguas iguais às outras e podem ser considerados como o espelho no qual refletem-se as mil formas por meio das quais o espírito nacional, em sua infinita riqueza, se manifesta.”[23]

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Parece-me importante introduzir algumas considerações sobre a palavra dialeto, ainda que, no caso dos dialetos italianos, devêssemos falar, em minha opinião, de "dialetos dos dialetos"; em português, diríamos jargão.

O jargão é uma língua convencional, falada por determinadas classes de pessoas com a finalidade de se comunicar entre si mas de não se deixar compreender por estranhos. É uma linguagem secreta, usada com a finalidade de defesa, mas é também uma ligação que reúne grupos de pessoas unidas por condições de vida comuns.

Sempre que um grupo de pessoas se encontra reunido por um período longo de tempo em um ambiente onde se desenvolve uma vida em comum (escolas, lugares de trabalho, casernas, prisões, os guetos, campos de concentração), o uso lingüístico individual assume uma extensão imprevisível no grupo por representar, de maneira eficaz, uma situação da qual todos os componentes participam.
A nova linguagem, apesar de não ter no início nada de artificial ou secreto, aparece para os não iniciados como tal.
Junto à vontade de esconder, os que falam em dialeto têm muitas vezes a vontade de surpreender os outros e enganar os inimigos, finalidades presentes, em intensidade variada, nas linguagens dos soldados, dos trabalhadores, dos jovens, dos malfeitores, etc.

Os jargões usam, além das palavras desfiguradas da língua, também palavras emprestadas de línguas estrangeiras, dialetos, linguagens técnicas. O aspecto original das palavras é muitas vezes alterado com estranhos sufixos, ou com cortes, adjunções e substituições. Os jargões contém, na sua maioria, palavras que derivam do deslizamento semântico[24] de outras. A partir da antigüidade, as mudanças de significado foram descritas na base de figuras retóricas, como, por exemplo a metáfora, a metonímia, a sinédoque[25].

Os lingüistas distinguem também várias causas que determinam a mudança de significado: as causas lingüísticas (o significado de uma palavra pode ser transferido para uma outra palavra se as duas aparecem varias vezes em um mesmo contexto), causas históricas e sociais (uma palavra passa da língua comum a uma linguagem técnica), causas psicológicas (fatores emotivos, tabu) e enfim o influxo estrangeiro. O bagito é particularmente rico em deslizamentos semânticos devidos ás causas histórico-sociais, psicológicas e à presença de lexemas estrangeiros.




1  Teorias sobre a origem dos dialetos judeu-italianos

Quando um grupo sociologicamente diferenciado (como era o dos judeus italianos nas várias regiões da Itália) no meio de uma comunidade maior quer afirmar sua própria autonomia, pode estabelecer essa autonomia no próprio sistema lingüístico, ou em uma sua qualquer variedade.
Os judeus italianos tinham sistemas lingüísticos similares, em sua fonologia, léxico e gramática, aos dos não judeus que viviam no mesmo lugar. Assim, o reconhecimento subjetivo e intencional desta pretendida autonomia determinou-se com a formação de uma variedade de linguagem subordinada à principal. Assim, foram se formando uma série de dialetos diferenciados da língua da região onde moravam, e também distintos entre si em relação à história política, e não lingüística, dessa região.
Ma quando, e como, se formaram estas diversidades de linguagem?
Várias são as teorias a este propósito formuladas pelos estudiosos destas falas.

O escritor Guido Bedarida [26], o mais importante dos escritores em bagito, escreve:

“Na Itália centro-meridional, a partir da formação do vulgar, apareceu uma espécie de fala que usava, e às vezes desfigurava, palavras hebraicas de uso corrente e antigos vocábulos de origem românica, sem nenhum respeito pela gramática, misturando-as aos dialetos locais. Formou-se, assim, uma fala que, denominada “latino”, pelos judeus italianos e ladino pelos judeus de outros países de língua românica e, sempre em oposição ao hebraico,  moldou-se, no inicio, sobre o dialeto dos romanos não judeus. De Roma, centro do judaísmo italiano, o “latino” se difundiu entre todos os judeus da Itália, mas, em cada região por eles habitada, assumiu características especiais e, na pronúncia, um sotaque especial em decorrência direta dos dialetos não judaicos destas regiões. Era esta uma linguagem que não permitia esquecer totalmente o hebraico, que servia para o uso familiar e por trás da qual os judeus às vezes se defendiam, por ser entendida somente por eles.
Estas falas eram híbridas e, em geral, não possuíam regras determinadas e  variavam com o tempo, mas eram muito úteis para o estudo do desenvolvimento da língua italiana. Os judeus, extremamente conservadores, deixaram assim palavras e maneiras de falar em desuso que constituem uma importante documentação. Um exemplo destas são as traduções do Ritual, de caráter popular e dirigido principalmente às mulheres,  que tinham menos conhecimento do hebraico do que os homens.”

Umberto Cassuto,[27] depois de ter estudado as características morfológicas, sintáticas e fonéticas destas falas, supôs a existência de um originário fundo dialetal centro-sul, comum a todas as comunidades, que teria vigorado até o século XV, limitado ao centro e ao sul da Itália. Mais tarde, ter-se-ia formada uma verdadeira base lingüística comum, que uniu os judeus presentes na península.

O prof. Marco Mancini confirma esta tese, observando que o centro de expansão das migrações judaicas no fim da Idade Média sempre foi Roma. Realmente, os judeus romanos haviam alcançado, por volta de 1200, um nível de vida bastante alto, que lhes permitia administrar pequenas operações de crédito com relativa facilidade. Assim, banqueiros judeus, isolados ou unidos em sociedades comerciais, foram se transferindo de Roma, seguindo as grandes vias consulares (Ápia, Aurélia, Salária, etc.), em direção às cidades do centro ou norte da Itália, convidados pelos governantes daquelas cidades a introduzir-se, com os seus capitais, nos mercados de crédito locais, ao lado, ou em substituição, das grandes sociedades toscanas e lombardas. A corrente migratória espalhou-se pelo Lazio, Úmbria, Marche e Toscana, constituindo comunidades que, com o passar do tempo, tornaram-se numerosas e cujas relações com Roma sempre permaneceram muito estreitas. No final de 1300, em todas as regiões da Itália centro-norte, as grandes companhias bancárias e comerciais dos judeus de origem romana possuiam estruturas articuladas e poderosas ligadas por relacionamentos preferenciais, ainda que nem sempre abertos e explícitos, com os pontífices e governantes locais.
Assim, estas migrações e a conseqüente formação de novas comunidades, representaram um terreno natural de expansão, para além dos muros de Roma, da assim chamada Koiné judaica de base romanesca, um instrumento lingüístico que já era utilizado para escrever. Realmente, o judeu-italiano escrito era destinado às mulheres, filhas e esposas dos banqueiros mais ricos, para que pudessem entender os textos bíblicos e as orações sem dificuldades.   
A expansão oral e escrita judaico-romana fez com que, em não poucos casos, os vários dialetos judeu-italianos preservassem traços do substrato judaico-romano.

Segundo a prof. M. M. Modena[28], a hipótese de uma origem comum nos dialetos judeu-italianos é plausível somente no que concerne à estrutura dessas falas, e a presença de meridionalismos (vocábulos do sul da Itália) nas mesmas deveria ser atribuída à conservação de elementos característicos de lugares de residência precedentes.

A maioria dos estudiosos, porém, não concordou com a teoria de Cassuto. Para eles, na verdade, a uniformidade das falas, verificada particularmente nas traduções, podia ser atribuída a uma tradição cultural, mais do que ao uso coloquial pelos interessados. Também as teorias de acordo com as quais as falas judaico-italianas ter-se-iam formadas sobre a base de um sistema de tradução que usava como modelo o hebraico, não tiveram força, pelo fato de que não permitiam determinar quais eram os dialetos específicos usados pelos judeus, ficando a linguagem vinculada à literatura.[29]

Vittore Colorni [30], que estudou em particular o dialeto falado em Mântua, escreveu em um seu ensaio, Ghetto, o que se segue:

“O gueto, que constituiu uma das maiores violações da liberdade individual que, no passado, atingiu os judeus, teve notáveis repercussões sobre suas vidas econômica, social e psicológica; assinalou a quase total extinção da cultura em língua hebraica de conteúdo filosófico, cientifico e literário, florescente na Itália há muitos séculos e que tinha, como natural pressuposto para o seu desenvolvimento, uma relativa liberdade. A separação, entre as muitas conseqüências, teve também a da instauração de uma diferença entre judeus e cristãos no que se refere à língua falada (diferença que antes não existia), sendo que nos guetos foram conservadas, sem uma ulterior evolução ou melhor, com uma evolução lenta e peculiar, as falas em uso em cada localidade no exato momento da clausura. Dessas falas arcaicas ficaram vestígios até hoje, em algumas localidades.” [31]

 Os judeus, desde a antiguidade adotaram como língua falada aquela dos lugares onde viviam na diáspora, porem mantendo o hebraico como língua escrita, que eles usaram (na Europa a partir do século X) para os atos administrativos e jurídicos da comunidade, para a literatura, a correspondência, para  todos os atos litúrgicos  e de culto, excluída a predica.[32]

Crescenzo del Monte[33], escritor de poemas e sonetos em judaico-romanesco, confirmava as palavras de Colorni, salientando também que a segregação em bairros fechados e a congênita resistência judaica a cada inovação inesperada, teriam gerado uma notável estagnação no comportamento lingüístico dos judeus italianos.[34]

Giuseppe Sermoneta afirmava ainda que:
“A característica das falas judaico-italianas era a de refletir sempre uma fase mais antiga do desenvolvimento da língua, no interior da qual a fala ia se formando. A reação lingüística ao ambiente que os rodeava, as necessidades migratórias, o fato de serem obrigados a usar o dialeto no ambiente restrito dos falantes, foram  fatores que concorreram para diferenciar lingüisticamente os judeus do contexto que os rodeava. Os traços similares que as variantes das falas judaico-italianas apresentam, parecem ser o fruto de uma atitude idêntica frente às condições de vida e necessidades muito similares” [35].

Umberto Fortis e Paolo Zolli imaginaram que as causas da existência destes dialetos deveriam ser procuradas no conservadorismo e no arcaísmo. De acordo com suas  pesquisas, estas falas “seriam formas antigas dos dialetos locais, que os judeus, de alguma maneira, subtraíram com o passar do tempo à sua natural evolução. Esse fato, historicamente, aconteceu em Florença durante o governo do duque Cósimo de Médici, com a criação do gueto, que teria preservado o dialeto florentino, falado por todos os judeus da cidade, das variações causadas pela evolução da língua.”[36]

Como escreveu Benvenuto Terracini [37], há mais de cinqüenta anos surgiu na Itália a idéia de recolher testemunhos orais, ainda existentes, das falas usadas nos guetos da Itália do norte e central. Isto não foi fácil por vários motivos e, em particular, pela labilidade do objeto de pesquisa. Dos numerosos centros judaicos existentes, grandes e pequenos que fossem, muito poucos, de fato, responderam ao apelo que lhes foi dirigido. A destruição da população judaica da Itália (na 2ª Guerra Mundial) e dos documentos a ela relativos, fez com que este tipo de colheita se tornasse tardia e quase impossível. Mas, por outro lado, aumentou o interesse histórico pelos poucos vestígios que puderam ser encontrados.[38]

De qualquer forma, alguns vocábulos são comuns entre as falas judaico-italianas. Podemos usar, como exemplo, um vocábulo introduzido pelos judeus expulsos da Espanha em 1492 e difundido através deles, com singular sucesso, nas comunidades israelitas de quase toda a Itália. Trata-se da palavra: negro ou negrigura, que, com toda a probabilidade derivou de negrillos ou negritos, termos depreciativos com os quais os espanhóis chamam os mouros. A palavra, segundo sua pronúncia, assume significados diferentes.
Em tom de compaixão, ah negro! significa coitado; de ameaça, negro dele significa ai dele; de imprecação, negro seja ele! significa que o mal o acompanhe; de arrependimento, que negócio negro! significa negócio sem resultado algum ou muito pequeno;  afirmativamente, é um sinal negro! significa que é um mau sinal; que negrigura! significa homem de nada, bom para nada.

Outro vocábulo interessante, também usado em varias regiões, é khammin (do hebraico ser quente, fervente, de onde, sol; e também do árabe khamma, do qual deriva khmamûn, banho quente e khamimun, termas). Os judeus os usaram, metaforicamente, para indicar cada espécie de comida quente, mas, em particular uma comida que se costumava preparar e deixar aquecida de sexta para o sábado. (creio ser algo aparecido com o tchulent dos asquenazitas). Do uso desta comida derivou a expressão mangiare (comer) khammin, que no começo significou apenas ser judeu, depois passou a significar a raça judaica, perspicaz e ativa, e, por metáfora, passou a indicar ser sagaz, entender rapidamente.
Em algumas regiões, como na Toscana, como esse prato era preparado com vários ingredientes combinados, como carne, ovos cozidos, feijões, e outros legumes, em um verdadeiro pot-pourri, de modo que dificilmente cada ingrediente podia ser distinguido, a palavra khammin foi usada como uma outra metáfora para indicar coisa, ou pessoa, da qual não se quer, ou da qual é difícil definir ou distinguir bem, as qualidades físicas ou morais. Assim, parecer um khammin foi adotado nos jargões dos guetos para indicar uma pessoa nem bonita, nem feia, ou uma coisa de cor indefinida, sempre, porém com marcada acentuação intencional sobre o feio e o pior.

Fora do contexto litúrgico e religioso, a introdução de palavras de origem hebraica sobre a base dialetal das regiões italianas, onde os judeus residiam, representou um interessante fenômeno que deu lugar a uma linguagem sucessivamente definida como: dialetto giudio, giudaico-italiano e, mais apropriadamente, de falas judaico-italianas. Essas falas assumiram, como já dito, nomes particulares somente em duas cidades: em Livorno, onde se chamou bagito e, em Ferrara, dialetto ghettaiolo.

No que concerne a introdução de palavras de origem hebraica sobre a base dialetal das regiões italianas, fora do contexto lingüístico e religioso, os escritores Umberto Fortis e Paolo Zolli[39] afirmam que a primeira prova do uso de palavras hebraicas inseridas na fala comum é um pouco anterior a Leão de Modena, e remonta precisamente ao ano de 1597. Naquele ano foi publicado o Amfiparnaso, comédia harmônica de Horacio de Modena, novamente proposto, em Veneza, por Ângelo Gardano[40], interessante para o problema do plurilingüismo típico do teatro do 1500, pelo fato de que nele achamos diálogos não só em italiano, mas também em espanhol. Mas o que mais interessa para este estudo é a cena da pagina 32, onde achamos versos em italiano, em dialeto e em latino, misturados a algumas palavras de fala judaica, provavelmente da cidade de Modena.

Na cena estão presentes alguns dos termos mais caraterísticos das falas judaicas: goi, não judeu; moscogn, penhor; parachem, dinheiro; Adanai, Deus; baruchabà, bem-vindo.

Além do hebraico e dos dialetos italianos, houve uma grande e heterogênea contribuição lingüística às falas judaico-italianas, especialmente ibérica e alemã, em conseqüência das muitas migrações que passaram pelas cidades e regiões italianas. Palavras e expressões se fizeram presentes na medida em que a comunidade envolvida fosse de prevalência sefardita ou askenazita. Se o judaico-espanhol, ou ladino, teve grande difusão na Itália central (Livorno, Ferrara, etc.), o dialeto alemão (ídiche) encontrou uma maior resistência, acabando por ser aceito, em parte, pelos judeus das cidades do nordeste da Itália.

Vários foram os motivos para o uso dos vocábulos hebraicos que se encontram nos dialetos judeu-italianos.
A divindade, os objetos de culto, as instituições tradicionais, as festividades anuais e os nomes dos lugares, tais como os bíblicos, não possuíam um equivalente na língua local e, assim, os judeus recorriam aos vocábulos próprios da língua sagrada. Também a linguagem afetiva, coloquial, descritiva das qualidades e dos defeitos das pessoas, inspirada nas imagens figuradas encontradas nas leituras sagradas, era o hebraico. A prática do comércio, muito ativo durante a época da segregação, utilizava expressões hebraicas.

As palavras hebraicas, que muitas vezes traduziam as palavras correspondentes italianas ou se adaptavam à fonética italiana, eram declinadas e conjugadas como se fossem palavras italianas. Essa era uma linguagem que não permitia esquecer totalmente o hebraico, era adotada pelas famílias e utilizada como defesa pelos judeus, sendo entendida somente por eles.

A inflexão, porém, era a mesma que usavam quando liam os textos sagrados. Os judeus que pronunciavam as expressões dialetais do lugar de maneira diferente eram insultados pelos cristãos, que os consideravam ignorantes.


Leonello Modona[41] acrescenta, às teorias sobre a origem dos dialetos judaicos, a idéia da imigração de países diferentes aos da península Italiana. Ele diz que...

“...quem pensa que o estudo destes dialetos poderia ser feito somente por meio do estudo dos rituais religiosos, escritos com caracteres hebraicos nos vernáculos das varias regiões que determinadas comunidades habitaram, cometeria um grande erro. De fato, cada comunidade era formada por indivíduos que haviam imigrado várias vezes e, assim, introduziram novos vocábulos,  de proveniências as mais disparatadas.
Não é possível esquecer que os israelitas foram e são, até hoje, cosmopolitas, e possuem, como todos os povos de origem semita, uma tendência a se adaptar ao ambiente, conjugada a uma facilidade extrema de assimilar os costumes e as linguagens dos povos com os quais entram em contato. Assim, introduziram, na própria maneira de se exprimir, vocábulos heterogêneos, dando a eles uma fisionomia hebraica.”

Como poderia então ser feito este estudo? Segundo Modona, em primeiro lugar deveria ser objeto de estudo a influência daquelas que chamarei as grandes imigrações da Idade Média, como a francesa, a alemã e a espanhola; depois, aos poucos, as menores, que chegaram mais lentamente, mas foram mais numerosas e progressivas, como a do norte da África e dos portos do Levante; e, finalmente, as que provinham de outras comunidades já mescladas e mais antigas da Itália. Em termos gerais, na Itália do norte, especialmente o Piemonte, a maior influência foi francesa e alemã; na Emilia e na Romagna, Marche e Úmbria, o espanhol, o antigo siciliano e o veneto (entendendo como estes dois últimos, os mais antigos vernáculos medievais da Sicília e do Veneto, onde os judeus eram numerosos muito antes da expulsão da Espanha); na Toscana, o espanhol e o português em primeiro lugar, depois os dialetos da Tunísia e da Argélia.

“...constatamos, assim,” continua Leonello Modona, “para cada região, uma linguagem híbrida, meio macarrônica[42], meio astuciosa, semi-oriental.... mas alterada cada vez mais morfológica e foneticamente, e permeada de sentenças e vozes bíblicas ou hebraico-rabínicas, às vezes usadas com seu verdadeiro significado, mas mais freqüentemente em sentido figurado ou também totalmente contrário; cheia de metáforas, de subentendidos e de tonalidades intencionais de significado e de entonação, intraduzíveis e assim não encontráveis em dicionários, de entendimento muito difícil para os não acostumados a ela, porquanto o mesmo vocábulo pode assumir significados diferentes segundo a inflexão e a entonação de voz com a qual é pronunciado.”

Em minha opinião, a tese de Umberto Cassuto, que afirma terem os judeus italianos como base uma Koiné romana, não é de todo descartável se lembrarmos que, como já dissemos, houve, a partir de 1300, uma migração de judeus, em particular banqueiros, que de Roma chegaram até o norte da Itália. De fato, como veremos mais à frente, no judaico-livornês alguns termos são os mesmos do judaico-romano, trazidos pelos judeus expulsos do sul da Itália que, antes de chegarem a Livorno, passaram um certo período em Roma, até a instituição do gueto.
A teoria de Colorni, que indica os guetos como os responsáveis pelo arcaísmo das línguas e a conservação destes dialetos judeu-italianos, poderia ser válida, mas não para o bagito, porquanto nas duas cidades onde este era falado, Pisa e Livorno, não existiram guetos.

Um professor de matemática não judeu, estudioso de historia, Raffaele Giacomelli, havia começado também, mas com uma finalidade totalmente diferente, a colecionar sentenças e palavras do dialeto romanesco. Giacomelli, nas suas pesquisas, deu-se conta das diferenças entre o dialeto falado pelos romanos e aquele dos romanos do gueto. Sempre mais interessado, descobriu que os traços distintivos do dialeto judaico-romano também eram encontrados fora de Roma, nos lugares onde havia chegado a onda migratória dos judeus romanos. Ele os achou, em particular, em Pitigliano, na Toscana. Estimulado por essa descoberta, o estudioso, em várias e repetidas peregrinações, continuou a se ocupar com as falas judaico-italianas, recolhendo, a partir de 1934, uma grande quantidade de material que porém, ocupado com seus problemas de trabalho e outros, nunca publicou ou elaborou.
Seu estudo e método de recolha permitiram-lhe descobrir um ambiente dialetal quase desconhecido. Anotava as particularidades mais vistosas destes dialetos, como o significado alusivo dos termos hebraicos mais banais. Conseguiu, assim, apresentar um quadro fiel destas falas, obtido através de entrevistas e diálogos. Ele descobriu, também, que as falas judaicas diferenciavam-se daquelas de cada região da península onde estavam distribuídos os principais núcleos judaicos.
Ele conservou em várias pastas as pesquisas relativas às cidades, grandes e pequenas, que havia visitado, sendo estas: Torino, Cuneo, Casale, Moncalvo, Asti, Veneza, Rovigo, Mântua, Modena, Ferrara, Lugo, Sinigaglia, Ancona, Siena, Livorno, Florença, Pisa e Pitigliano. O material deixado por Giacomelli foi de grande ajuda no estudo dos vários dialetos judeu-italianos. 

Qualquer que seja a teoria sobre os dialetos judeu-italianos, após a análise de alguns escritos de autores diversos e em dialetos diferentes, pode-se afirmar que todas estas falas apresentam fenômenos lingüísticos fundamentais:
1 – formação de palavras com raízes judaicas e sufixo italiano. Ex.: dabberare = falar hebraico.
2 – formação de termos mistos, metade hebraicos e metade italianos. Ex.: mal-mazzalle = má sorte em hebraico
3 – preservação de muitas palavras hebraicas, incluindo aquelas das orações e outras que não podem ser traduzidas pela falta de termos adequados. Ex.: cavanà = devoção em hebraico.
4 – abstenção do uso de palavras italianas relativas ao ritual cristão, ou uma deliberada distorção desses termos. Ex.: tonghevá (hebraico) = abominação, usada porém como sinônimo de crucifixão.
5 – uso de palavras hebraicas com um sentido diverso do seu significado, ou o repúdio de uma palavra hebraica em favor de um sinônimo. Ex.:  chaver (hebraico) = com o significado de serviçal; beridde (em hebraico Berit) = com o significado de órgão sexual; ngarelle (do hebraico arel) para goi, não judeu.
6 – formação de palavras secretas (vide tabus lingüísticos no bagito, na página....
7 – a tendência, especialmente nas traduções, de usar homônimos ou palavras italianas que lembrem os termos hebraicos.


III – 4  Dialetos judeu-italianos

Podemos fazer uma classificação dos principais dialetos judeu-italianos de acordo com tabela abaixo.


JUDAICO- ITALIANO
REGIÂO
ESCRITORES
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Piemontês
Piemonte
Benvenuto Terracini
Vide capítulo referente a este dialeto
Mântuano
Mântua
Vittore Colorni
La parlata degli ebrei Mântuani em Judaica Menora, pp. 579-636
Veneziano
Veneza
B.Polacco
Quarant’anni fa (1939)
Em RMI, v. XXXVIII (1972),pp.584-617
Modenese
Modena
R.Giacomelli
Il giudeo-modenese nei testi raccolti da R.Giacomelli, em Rendiconti dell’Istituto Lombardo, v. 107, pp.863-968
Fiorentino
Firenze
Benè Kedem (pseudônimo dos quatro filhos de U.Cassuto)
La Gnora Luna – Scene di vita ebraica fiorentina
Bagito
Livorno
Guido Bedarida
Vide respectivo capítulo
Ferrarese
Ferrara
Bassani
Romanzo dentro le mura na coletânea:
Il Romanzo di Ferrara
Romanesco[43]
Roma
Sestieri Lea[44]
Sobre a fala judaico-romanesca, em Scrtti in memoria di Enzo Sereni, Milão-Jerusalém,
1970, pp112-113
Romanesco

Roma

Crescenzo Del Monte

Sonetti giudaico-romaneschi, Florença, 1970
-Novos sonetos
-Sonetos póstumos
Triestino
Trieste

Vidossich

Studi sul dialetto triestino em Archeografo Triestino v.23, 1899-1900,p.258
Triestino
Trieste
Levi, A.
La pegarida del Filo (A morte do fio)
Triestino
Trieste
Augusto Levi [45]
Una poesia d’occasione in  dialetto ebraico-triestino, em RMI, 1970, pp. 366-369. Encontrase no anexo N. 6
Siciliano
Sicilia
Giuseppe Sermoneta
Alfabetin



Todos os dialetos judeu-italianos apresentam características constantes, que podem assim ser resumidas:
1- Situação de diglossia (bilingüismo)
2- Segregação e freqüentes deslocamentos das várias comunidades, que teriam como conseqüência a presença de “vestígios” de situações lingüísticas advindas dos lugares por  onde passaram[46]
3- Presença direta ou indireta do hebraico
4- Tendência ao arcaísmo da língua ou do dialeto.
5- Deslizamento semântico.
Objetivos da dissertação
A história dos judeus na Itália, em particular em Roma, remonta a dois séculos antes de Cristo. A expansão romana transformou-se num veiculo para a difusão das atividades e das Comunidades, antes no sul, depois no norte da Itália e daqui para além dos Alpes.

O latim tornou-se aos poucos a língua cotidiana que, perto do séc. V, acabou substituindo-se ao grego e ao aramaico, como língua falada enquanto o hebraico ficou como língua de estudo e de culto.

Com toda probabilidade o latim falado pelos judeus era aquele vulgar e podemos presumir que fosse rico de termos hebraicos e gregos e tivesse características próprias enquanto falado por um grupo distinto (separado), motivo pelo qual alguns estudiosos presumem a existência de um hipotético judeu-latino.

Nos séculos da alta Idade Media desenvolveram-se os dialetos vulgares italianos que nasceram da evolução do latim.
 Também os judeus começaram a usar os vulgares italianos, primeiro na fala e depois na escrita, deixando seja o latim que o hebraico como língua de cultura. Assim, nos lugares onde havia uma presença judaica, podemos imaginar, junto a cada vulgar, um vulgar judaico com suas próprias características, que permaneceu, desenvolvendo-se naturalmente durante os séculos, ao lado dos dialetos locais até o fim do séc. XIX.

Um dos objetivo desta minha dissertação é o de levar ao conhecimento a existência destes dialetos e, por meio destes, parte da antiguíssima história dos judeus italianos. De fato estas falas, usadas pelos judeus que viviam nas varias regiões (uma vez Estados) que constituem a Itália de hoje, são testemunhas dos antigos vulgares italianos.

A segregação dos judeus nos guetos, a partir de 1555 (1516 em Veneza) levou a uma completa estagnação da linguagem dos judeus que neles viviam, em contraposição à mobilidade dos que habitavam no ambiente externo e que encontravam-se em condição de liberdade. A conseqüência desta segregação foi que quando os guetos foram abertos a falas dos judeus continham muitos termos que soavam estranhos, mas que, na realidade, haviam sido usados na mesma cidade dois ou três séculos antes.
Deste fato aparece a grande importância destes judeu-italianos para o estudo do desenvolvimento da língua italiana.

Estes vulgares, depois da emancipação (que aconteceu com a unificação da península em 1870) foram desprezados e por muitos foram intencionalmente abandonados como estigmas de inferioridade.

Destes dialetos sobraram somente algumas poucas palavras misturadas aos dialetos locais, muitas vezes usadas por não judeus e em ambientes populares, como entre os comerciantes e os feirantes.
A única exceção a este esquecimento foi o dialeto judeu romanesco que esta porém em fase de extinção.

O escritor Leonello Modona,[47] esperando na recuperação das antigas expressões judeu-italianas, escrevia em 1893 no Vessillo Israelitico “Nos lugares onde seria impossível conhecer a origem ou a formação de uma determinada comunidade judaica, ou onde tivesse ocorrido mais de uma migração, simultânea ou sucessiva, algumas palavras poderiam fornecer dados muito prováveis sobre as migrações judaicas nas várias regiões e províncias da Itália, com evidentes e importantes vantagens para a história e a etnografia”.

Estes dialetos judaicos, apesar dos muitos anos que se passaram da abertura dos guetos (1848; 1861; 1870) foram redescoberto e em parte recuperados no fim do séc. XIX, inicio do séc. XX. Depois da primeira guerra mundial, os dialetos italianos em geral, falados e escritos, eram tolerados nas escolas elementares com a intenção de servir como ponte para aprender a língua italiana; foram proibidos porém com as leis nacionalistas promulgadas durante o regime fascista de Mussolini (1922-43), que quis a italianização de todos os nomes estrangeiros considerados um elemento de desagregação.

A idéia de escolher o bagito no meio dos outros dialetos judeu-italianos deriva da consideração que o Brasil, como Livorno, acolheu um grande numero de cristãos-novos provindo da península ibérica e pelo fato que este dialeto contém entre as palavras italianas e livorneses, bastantes palavras portuguesas, alem das espanholas e das hebraicas.

O nome bagito dado á este dialeto pode ter como etimologia tanto a palavra bajo (baixo em português) que a evolução fonética do diminutivo bajito (castelhano), com o significado de vulgar, de pouca importância, da camada mais baixa da população (pueblo bajo).
Para o escritor Guido Bedarida poderia ser um deslizamento semântico da palavra vagido (o cantarolar das crianças, o choro dos recém nascidos), pelo fato que é uma fala um pouco cantada, arrastada.
Este dialeto formou-se aos poucos e somente no séc. XVIII, com a chegada de um maior numero de judeus italianos. 


Outro objetivo desta dissertação foi o de ressaltar a importância dos dialetos judeu-italianos como Línguas da Memória das Comunidades judaicas italianas. De fato cada uma destas línguas resume no seu léxico a história da comunidade que o falava, ou seja a lembrança das línguas que foram usadas em outras diásporas, do hebraico utilizado as vezes como uma linguagem tabu, da tentativa de usar a língua do lugar onde se encontravam.

Outro motivo pela escolha do bagito como língua da memória foi o de pôr em evidência a importância que seu porto teve para a emigração para novos continentes. Livorno serviu de fato como ponte para sucessivas emigrações sefarditas no Levante (Impero Otomano) e no Magreb. Interessante é salientar que muitos dos sefarditas que se refugiaram nestes lugares, depois que Livorno adquiriu importância comercial e cultural voltaram para lá, não porque sofressem descriminações ou persecuções, mas pelo alto nível econômico e cultural que os judeus tinham alcançado em Livorno, mantendo contatos comerciais entre os vários paises onde residiram; isto explicaria a presencia de algumas palavras em hakitia no bagito. Além disso foi graças a estes judeus levantinos que voltaram, que muitos dos cristãos novos de Pisa e Livorno quiseram ser chamados de judeus levantinos enquanto como tais não sujeitos à Inquisição.  


[1] Berliner A. 2000, p.44
Até o presente conhecemos cinco cemitérios judaicos nos arredores de Roma: o cemitério subterrâneo de  Monte Verde; o cemitério no vinhedo Rondaini, na via Appia; uma pequena catacumba no vinhedo do conde Cimarra, também na via Appia; um outro cemitério na via Labicana, e um pequeno cemitério ao longo da via Appia Pignatelli.
É interessante notar que as catacumbas  romanas judaicas se diferenciavam das cristãs não só pela simbologia diferente das lápides, mas também pelo fato principal de que eram fechadas por lajes de pedra muitas vezes rebocadas ou cobertas com terracota, tão hermeticamente que dissimulavam perfeitamente a abertura por trás. A fileira interior dos nichos não chega até o pé da parede e aqui as lajes são apoiadas não perpendicularmente, mas inclinadas.
[2] Lewin, A 2001, pp. 195-215
[3] Lewin, A 2001, p.211-    IVª  Sátira de Jovenale 542-547.:
Cum dedit ille locum, cophino fenoque relicto
Arcanam Iudaea tremens mendicat in aurem,
Interpres legum Solymarum et magna sacerdos
Arboris ac summi fida internuntia caeli.
Implet et illa manum, sed parcius; are minuto
Qualiacumque voles Iudaei somnia vendunt.
[4] Milano, A. 1963, p.431-432.
[5] Berliner, A. 2000, p.68
[6] Sermoneta, Giuseppe (Joseph Baruch, 1924-1992). Nasceu em Roma e, em 1953, transferiu-se para Israel. Foi professor de Literatura Italiana na Universidade Hebraica de Jerusalém. Foi um grande estudioso das relações entre as línguas judaico-italianas e o italiano na Itália Medieval.
[7] Por iniciativa da Universidade de Jerusalém, foi criada uma microteca com manuscritos achados em textos (fondi) judaicos das Bibliotecas européias e americanas.
[8] Sermoneta, G. 1994, p. IX
[9] No sentido de que as duas línguas se encontram contemporaneamente no texto.
[10]  Cuomo, L. Roma 1983, p. 227
[11] Narração histórica em hebraico, de autor anônimo, que descreve o período do Segundo Templo, escrita na Itália meridional no século X. O texto se inicia mencionando as diferentes nações e seus assentamentos, baseando-se nos descendentes de Jafé mencionados em Gênesis, 10. O autor segue contando a história da Itália antiga e a fundação de Roma, e depois a história do período do Segundo Templo, terminando com a queda de Massada. A maioria dos escritos conta as vicissitudes das guerras entre os judeus e os romanos. Este texto pode ser hoje consultado em dois trabalhos do prof. David. Flusserwere que apareceram simultaneamente em 1978. A primeira edição baseia-se em manuscritos originais com a representação fotocopiada de algumas partes dos escritos originais. (EJ- CD-ROM Edition)
[12]Donnolo, S. (913-c.982), médico italiano e escritor de textos científicos, que viveu no sul da Itália.
[13] Nathan ben Jehiel de Roma (1035-1110), lexicógrafo italiano (dicionarista). Em seu Arukh, Nathan deu tanto o significado como a etimologia das palavras do Talmud, incluindo também nesse estudo muitos termos de origem aramaica, latina, grega, árabe e persa. (EJ – CD-ROM Edition)
[14] Leone da Modena, Judah Arych (1571-1648), rabino italiano, professor e escritor. O Galut Yehudah (dicionário hebraico e italiano), foi impresso em 1612 em Veneza, e em 1640 em Pádua.  (EJ – CD-ROM edition)
[15] Menahem ben Solomon (primeira metade do sec. XII). (EJ – CD-ROM Edition)
[16] Isaiah ben Eljah, de Trani (1280-?), professor em escolas rabínicas. A maioria de seus trabalhos encontra-se ainda em manuscritos (EJ – CD-ROM Edition)
[17] Romano, Judah ben Moses ben Daniel, filósofo italiano e tradutor. (EJ- CD-ROM Edition)
[18] Libro delle Forme Verbali de Moses ben Joseph Kimki. O tratado de gramática hebraica mais difundido entre os judeus da Itália e da França entre os sécs. XIII e XVII. Eu o encontrei no texto Scritti in Memória di Leone Carpi. Ed. Fundação Sally Mayer (bilíngüe italiano e hebraico), 1967.  Uma dessas Kinot em dialeto judeu-italiano é atribuída à região das Marche (Itália central) por Umberto Cassuto, um grande estudioso das falas judaico-italianas. Esse texto é de grande importância também para o estudo do dialeto dessa região. Este tratado encontra-se no anexo N. 1
[19] Seu autor é Perez Trabot (sécs. XIV-XV), conhecido também como Zarfati ou Catalam, que viveu na França, vindo da Catalunha em 1395, transferindo-se depois para a Itália. (EJ – CD-ROM Edition)
[20] Cassuto, U. 1937, pg.103. La Ienti di Sion uma elegia, Kinah, (ver anexo n. 4) cantada durante as rezas na sinagoga, no dia 9 de Av, é o mais antigo texto poético em dialeto judeu-italiano, escrito em caracteres hebraicos, que remonta ao começo do séc. XIII, provavelmente da região das Marche. Trata-se de um dos mais antigos monumentos da literatura italiana, de grande importância para a história literária italiana e para o conhecimento dos antigos dialetos italianos. Esta elegia, por suas formas exteriores, origina-se de duas diferentes ordens de modelos: das quinoth em língua hebraica pelo esquema métrico e pelo assunto; da poesia italiana, de conteúdo religioso cristão, pelas expressões e movimentos. O autor era sem dúvida um homem culto, mas não escrevia para as pessoas cultas (...) ele escrevia para as pessoas simples que do hebraico conheciam pouco ou nada além da leitura, e que não estavam em condição de compreender os textos judaicos que escutavam ou que liam na sinagoga. Para estes ele quis acrescentar, às elegias hebraicas destinadas ao serviço da sinagoga no jejum de 9 de Av, uma elegia em vulgar que, cantada no meio daquelas do celebrante, pudesse ser facilmente entendida por todos os assistentes. (...) por isso escreveu no dialeto falado pelo povo, e por isso adaptou as formas e o estilo da poesia popular italiana. Para tanto usou como modelo a poesia “giullaresca” (jogralesca), pois este estilo conseguia atrair a atenção do público. 
[21] Terracini Benvenuto (Torino 1886-1968).
[22] Ascoli Graziadio, Isaia (Gorizia 1829-Milão 1907). Introduziu na Itália o estudo da gramática comparativa. Fundou o Arquivio Glottologico Italiano em1873. Escreveu Studi orientali e linguistici 1845-55), Corsi di glottologia (1870) e Saggi ladini (1873). Este último texto é citado também por Rodolfo Ilari, em seu livro Lingustica Românica, 1997, p.189.
[23] Cammeo, G. em Vessillo Israelitico, 1909, p. 207
[24] Entende-se por deslizamento semântico a mudança de significado de uma palavra. Por exemplo, em muitos países hoje podemos assistir ao deslizamento semântico do termo imigrados, substituído por: extracomunitário, estrangeiro, clandestino, etc., todos com a tendência a projetar no imigrado a diarquia nós/eles.
Às vezes uma nova forma faz esquecer a antiga (por exemplo a palavra pelo substituiu o latim pilus). Porém muitas vezes acontece que o significado novo de uma palavra não comporta a extinção do velho. Assim, por exemplo, tábua pode significar: um pedaço de madeira serrado no comprimento do tronco de uma árvore, uma ilustração que ocupa uma folha inteira de um livro, uma pintura sobre madeira, uma mesa para passar, etc. Quando isto acontece, estamos frente a um fenômeno chamado de polissemia, e a unidade lingüística passa a ser considerada polissêmica.
[25] A metáfora, muito usada  nestas falas, faz parte da mudança semântica que acontece quando da similaridade dos significados, por exemplo: a perna de uma mesa, o braço de um lustre, derivam da perna e do braço do homem. Isto acontece também quando se emprega uma palavra concreta para exprimir uma noção abstrata: esta mulher é uma jóia.
     A metonímia é uma simples transferência de denominação. Esta mudança acontece quando as duas palavras são ligadas por uma relação de causa e efeito (a colheita pode designar o produto da colheita  e não apenas a própria ação de colher), ou pode acontecer devido à contigüidade dos significados: a variação do significado da palavra latina COXA (anca) para o italiano coscia (coxa) explica-se pelo fato de que a anca e a coscia são duas partes vizinhas do corpo.
    A sinédoque, é uma figura de transferência semântica; consiste no estender ou no restringir o significado de uma palavra. Isso pode ser obtido indicando:
          A parte para o todo : o mar está cheio de velas, ou seja de barcos a vela.
-          O todo para uma parte: seus olhos são azuis  (na realidade é azul somente a íris).
-          O gênero pela espécie: os mortais = os homens; o felino = o gato.
-          A espécie pelo gênero: nesta casa nunca faltou o pão. O pão = a comida,  o que é necessário para viver.
-          O singular pelo plural: O cachorro (os cachorros) é um anima fiel. O inglês (os ingleses) é um tipo minucioso.
-          O plural pelo singular: Não arruinar-te com os amigos (com os amigos = com um determinado amigo)
-          O material com o qual é feito um objeto pelo objeto mesmo: um mármore de Fídias, ou seja, uma estátua de mármore, esculpida por Fídias.
Os lingüistas estabelecem às vezes uma correlação entre o desenvolvimento de uma cultura e o enriquecimento polissêmico das suas unidades.
Podemos constatar que os dicionários engrossam não apenas pelos novos vocábulos, que entram no léxico de uma língua, mas também, e principalmente, pelos novos significados que são acrescidos aos verbetes já existentes.
[26] Bedarida, G. 1956, p. XI
[27] Cassuto, Umberto (Moses David; 1883-1951) historiador e professor de historia bíblica e semítica
[28] Modena, M.M., 1997, v.2, p. 46
[29] Castaldini, A, 1999, pg. 121
[30] Colorni, Vittore (1912- ), nasceu em Mântova. Foi professor de Direito na Universidade de Ferrara. Em 1945, escreveu Legge ebraica e Leggi locali e muitos artigos sobre a história e a linguagem dos judeus de Mântua. Um livro importante de estudos judaicos é Judaica Minora (1983), que recolhe ensaios sobre a história do judaísmo italiano da época antiga até a idade moderna.
[31] Colorni, V. 1956, pp. 59-60.
[32] Della Torre. 1862-63, pp. 94-98
[33] Del Monte, Crescenzo (1868-195). Escritor e poeta. Escreveu sobre as tradições, o folclore e as linguagens dos judeus de Roma. Publicou dois volumes de sonetos em dialeto judeu-italiano em 1927 e 1933.
[34] Castaldini, A, 1999, pg.122.
[35] Castaldini, A. 1999, pg. 122.
[36] Castaldini,A. 1999, pg. 122
[37] Terracini, Benvenuto Aaron (Turim 1886-1968) Crítico e professor de glossologia. Ocupou-se
   de dialetologia, lingüística histórica e estilística.
[38] Terracini, B. RMI, v..XVI, nº 1..
[39] Fortis, U. , Zolli, P. 1979, p. 15
[40] ibidem
[41] Modona, Leonello. Escreveu, entre outras obras, Lês exiles d’Espagne à Ferraraen 1493, em Revue dês études juives, XV (1887), pp.117-21. Os trechos traduzidos e transcritos são da revista Il Vessillo Israelitico, XLI (1893), pp.60-62, 85-88, 121-23,154-57.

           [42] No séc. XVI, o herético monge Teófilo Folengo, (alias Merlin Cocai, alias Limerno Pitocco) criou uma linguagem macarrônica, mistura de italiano e latim, para zombar dos aristocratas, dos padres e dos humanistas eruditos da Renascença: é uma oposição pelo riso. Ha uma relação entre língua e classe social. As classes sociais têm, cada uma, sua própria língua. O judeu-italiano poderia ser o italiano macarrônico dos judeus pobres para se opor e não ser entendido pelo restante da população, não judia. Ver anexo N. 5.
No Brasil há um escritor em língua macarrônica italiano-português, Juó Bananére, (pseudônimo de Alexandre Marcondes Machado, 1892-1933) que em fins de 1924 publicou a Divina Increnca, um livro de poesias políticas contra o marechal Hermes. Nessa obra ele usa a linguagem macarrônica da classe social imigrada mais pobre para combater os cartolas do Partido Republicano Paulista, que dominavam o estado mais rico do Brasil, riqueza que acabará no grande crash de 1929. Os italianos imigrados, com seus pobres restos da língua da Divina Comédia sobreviveram; mas, a crise do café produziu uma Divina Encrenca e enfim, em 1930, uma revolução.
Artigo que apareceu no Jornal da Tarde de 01/12/01. Ver anexo N. 5
[43] É o único dialeto judeu-italiano que ainda continua a ter uma certa força.
[44] Sestieri Scazzocchio, L. Professora de História na Universidade Sapientia de Roma. Autora de muitos livros e ensaios. Entre os livros, pode ser citado : “Gli ebrei nella storia di tre millenni”. (Os judeus na história de três milênios) Carucci Editore, Roma, 1980.
[45] In Memorio de Vittorio Lev i- Minzi, poesia escrita por Augusto Levi, tipógrafo teatral. A poesia foi reescrita por mérito de Stock, Mario, (Spalato 1906-Trieste1989) que foi, por mais de trinta anos, presidente da comunidade judaica de Trieste. Foi professor de economia política e historiador. Entre seus escritos, podemos citar: “L´espulsione degli ebrei dal Regno di Napoli” e “ Solomon zudiu de Norimberga publico imorestador a Trieste”.
[46] Modena, M. M. Le parlate giudeo italiane - Storia d’Italia, Annali 11**, Ed.Einaudi, 1996, pp 939-963
[47] Escreveu “Os exilados da Espanha em  Ferrara em 1493”  Texto em francês que encontra-se na Revista de estudos judaicos de 1887. n. XV. Escrevia para o Vessillo Isrealitico no período no qual iniciou o interesse para a recuperação dos dialetos judaicos, 1893.

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