TRATUTOR

quarta-feira, 5 de junho de 2013


 

Algumas miniaturas presentes na Bíblia Hebraica imprimida em Brescia por Gershom Soncino em 1494.

 

 

A Itália foi sempre um autentico centro, seja do ponto de vista cultural que geográfico. É aqui que se estabeleceu a primeira comunidade judaica na Europa: a presencia judaica em Roma é precedente à queda do segundo Templo. Os Judeus italianos apesar de não serem particularmente numerosos (nos momentos de maximo esplendor nunca superaram as cinqüenta ou sessenta mil pessoas) se distinguiram por sua extraordinária vitalidade cultural e por sua ampla produção de obras literárias em hebraico sobre os mais diferenciados assuntos: ritualística e arte oratória, filologia, filosofia, cabala e muitas outras disciplinas, além de, naturalmente, a poesia e a teoria poética.

 

Na Itália se encontra um verdadeiro tesouro de manuscritos hebraicos: tipografias judaicas surgiram já no séc. XV, na época dos incunábulos, em Bologna, Mantova, Soncino, Napoli, Brescia. Nas tipografias de Veneza (desde 1517), de Padova (desde 1562), de Mantova e, mais tarde, naquelas de outras cidades foram impressos milhares de livros, desde pequenos fascículos e folhetos até obra muitos importantes, como as publicações da Bíblia com os principais comentos medievais, do Talmud e do Zohar, destinadas estas últimas a serem consideradas como edições de referencia.

 

De 1200 até 1600 os livros que saíram das mãos dos judeus italianos, antes manuscritos e depois estampados, constituíram um desejado tesouro para cada família judaica; a partir de 1700 tornaram-se umas importantes propriedades  das maiores livrarias publicas  e particulares do mundo.

Entre as várias manifestações artístico-literárias que acompanharam o ressurgir da civilidade italiana, e que tiveram seu berço nas maiores cortes da Itália, a bibliofilia constituiu a paixão artística dominante para os judeus.

O escriba entre os judeus não era o simples experto de caligrafia, o copista servil come se encontrava entre os romanos e na baixa Idade Media, ele considerava a si mesmo como o propagador da sabedoria dos livros sagrados e dos comentários e para ele o ato de copiar um livro correspondia a uma espécie de exercício espiritual.

Conforme o conceito judaico, os amanuenses e os primeiros estampadores  foram personagens que tinham o mesmo valor. As obras dos dois eram consideradas um trabalho sagrado e para diferencia-los se dizia, poeticamente, que  a estampa era a arte  de escrever com muitos lápis.

 

Em 1475, trinta e cinco anos depois da invenção alemã dos caracteres de estampa moveis, apareceram na Itália os dois primeiros livros hebraicos imprimidos; estes foram impressos respectivamente a Reggio Calábria, por obra de Abraham bem Garton e outro a Piove di Sacco, perto de Padova, por obra de Meshullam Cusi.

 

Entre as centenas e mais obras hebraicas publicadas na Itália em 1500 o nome dos Soncino aparece em pouco menos do que da metade.

A família Soncino provinha de Spira, na Alemanha; na metade de 1400, um dos seus membros emigrou para a Itália e pouco depois conseguiu a autorização para abrir um banco em Soncino, perto de Cremona. O banco floresceu e o banqueiro adotou o nome de sua nova residência como sobrenome. Na segunda geração desta família se salientou Israel Nathan que, além de trabalhar no banco, exercia a profissão de medico e tinha uma grande cultura em campo hebraico. Em 1478 a abertura de um dos Monti di Pietá em Soncino (bancos de empréstimo sem juros, fundados pela Igreja para concorrer com os bancos judaicos) provocou o encerramento do banco judaico; dois anos depois o medico-banqueiro decidia de abrir com os filhos, Mosé e Josuá Salomon, e os netos uma gráfica. Desta saíram entre 1483 e 1490 a Bíblia, uma serie de tratados do Talmude, o Machzor, conforme o rito italiano, e outras obras todas curadas nos mínimos detalhes seja nos textos que na apresentação. Depois da morte de seu fundador, que aconteceu em 1489, o nome e o emblema dos Soncino peregrinaram de uma cidade a outra: Brescia, Barco, Veneza, etc.

 

Gershom Soncino, filho de Moisé, foi considerado o maior impressor judeu de todos os tempos. Depois de uma tentativa de estabelecer-se em Veneza acabou ficando no centro da Itália entre as Marche e a Romagn.

 

A Bíblia das quais são reproduzidas algumas paginas fazem parte da terceira edição que saiu de sua gráfica em Brescia no fim de abril de 1494 (19-25 do mês judaico de Siwan). Esta consiste de 586 folhas imprimidas sem paginação com o texto distribuído sobre vinte e seis  linhas por pagina, com os Salmos em duas colunas. O numero dos salmos é de 149, enquanto alguns são unidos em um só e outros divididos em dois. Os caracteres escolhidos por Soncino são parecidos com os que eram usados nas precedentes edições de textos bíblicos, mas menores, ou seja as letras são similares ás grafias quadradas de tipo italiano com influxos sefarditas.

Foi esta a edição hebraica, usada por Lutero na sua tradução da Bíblia em alemão. Alguns pensam que ele a escolheu por a qualidade da recensão que ela continha, outros por sua maneabilidade, tendo esta um formado de bolso.

 

                                                                  Anna Rosa Campagnano Bigazzi

                                           

AHJB, Arquivo Histórico Judaico Brasileiro e SGJB, Sociedade Genealógica Judaica Brasileira.

 

 

Bibliografia

 

La Bibbia Ebraica Soncino de Brescia del 1494 em Os judeus a Castengandolfo – textos organizados por Mario Perani – Ed. Giuntina Firenze, 1998, pp. 143; 145 e tav.2; 3; 5; 9.

Attilio Milano – Storia degli ebrei in Italia – Giulio Einaudi Editore, 1963,

 pp.640-641

Dan Pagis. Caratteri generali della poesia ebraica italiana

Em Rivista Mensile D’Israele - V. LX – N.1-2, 1994

 


Tab.2 – Brescia, Biblioteca Queriniana, Bibbia ebraica Soncino, 1494, Baroncelli, Incun. N. 173, primeiro exemplar: friso com uma miniatura de outra mão, representante a oferenda de um sacrifício sobre o monte de Jerusalém.

 

Tab.3 –  Brescia, Biblioteca Queriniana, Bibbia Ebraica Soncino, 1494, Baroncelli, Incun.

N. 173, primeiro exemplar: ornamentação policroma da pagina inicial de Números, com uma figura de carneiro acocorado sobre um altar.

 

Tab. 4 – Brescia, Biblioteca Queriniana, Bibbia ebraica Soncino, 1494, Baroncelli, Incun.

N. 173, primeiro exemplar: ornamentação em policromia e ouro da pagina inicial do Deuteronômio.

 

Tab. 5 – Brescia, Biblioteca Queriniana, Bibbia ebraica Soncino, 1494, Baroncelli Incun.

N. 173, primeiro exemplar: frisos e ornamentação com motivos floreais da pagina inicial do Cânticos dos cânticos, com a representação da mulher-amante adormecida, rodeada por lírios e  campânulas.

 

Tab. 9 – Brescia, Biblioteca Queriniana, Bibbia ebraica Soncino, 1494, Baroncelli Incun.

N. 173, primeiro exemplar: frisos em policromia e ouro nos margens ao redor da folha inicial dos Salmos; na pagina  branca, ao lado, um outro artista representou os instrumentos musicais do saltério.

 

 

 

 

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