TRATUTOR

quinta-feira, 21 de março de 2013


PALESTRA do dia 4 de outubro na FISESP

 

Quando falamos da Itália, é preciso lembrar que sua história é muito complexa. Com a queda do Império Romano do Ocidente, em 476, a península italiana perdeu sua unidade política e ressurgiu como Estado nacional somente em 1861. Assim por 1300 anos a península italiana ficou dividida em diferentes Estados que alternavam seus governantes conforme os povos que a conquistavam. Os maiores conquistadores foram os Alemães, Austríacos e Franceses no Centro-Norte, e Normandos, Árabes e Espanhóis no Sul e nas Ilhas.

 

A comunidade judaica italiana veio se formando pela união de vários núcleos judaicos que chegaram ao país em épocas diferentes.

O primeiro núcleo foi constituído por judeus que viviam em Roma e no Sul da península antes da destruição do Templo de Jerusalém no ano 70[1].  O segundo era composto por judeus que foram levados a Roma por causa desta destruição[2].

Um terceiro núcleo formou-se na Idade Media, no norte da Península, com a chegada de dois grupos minoritários: um proveniente de países de língua alemã, dos quais os judeus eram sistematicamente banidos, devido às Cruzadas e à Peste Negra (1348), e outro proveniente da França, em virtude das expulsões decretadas nos anos de 1306 e 1394, e que se estabeleceu nos territórios do Piemontês. A estes dois grupos uniu-se um grupo de banqueiros judeus, provindo do Lazio, Úmbria, Toscana, Marque e Emilia- Romanha, que saiam de seus Estados  devido à uma significativa queda de vida nestas regiões.

No século XVI, judeus sefarditas expulsos da Espanha em 1492, por recusar o batismo, e de cristãos novos, fugitivos do Portugal em 1497 chegaram a Livorno constituindo o quarto núcleo. A estes se juntaram outros judeus sefarditas que, pelas mesmas razões, tinham-se recados nas florescentes comunidades de Amsterdam e Hamburgo, perseguidos pela Inquisição. Estes se dirigiram, a Livorno, no Ducado D’Este em Ferrara, nos Estados de Reggio Emilia e Modena. Para muitos destes sefarditas, porém, a península italiana serviu como ponte para alcançar, mais tarde, outras regiões na costa norte da África e o Império Otomano.

É preciso lembrar também que, com a Revolução Francesa (1789-1790) – movimento social e político ocorrido no final do século XVIII que teve por objetivo principal derrubar o Antigo Regime e instaurar um Estado Democrático -  os judeus europeus adquiriram o estatuto jurídico e assim, muitos judeus do Império Otomano, onde apesar de ser respeitados, eram considerados cidadãos de segunda classe, voltaram para Europa e na Itália constituíram o quinto grupo.

Mias tarde, com a anexação de Triste, Gorizia, Merano e Fiume ao Reino da Itália, em consequência da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), formou-se um sexto grupo de judeus provenientes das diversas regiões da Europa como Áustria, Alemanha, Hungria, Polônia e a Ilha de Corfú.

Com a criação do Estado de Israel, em 1948, e as sucessivas guerras árabes-israelenses, os judeus que viviam nos países árabes há vários séculos, foram obrigados a fugir por serem considerados “inimigos sionistas”. Milhares destes judeus se refugiaram na Itália formando assim um sétimo núcleo. Em Roma se transferiram especialmente os judeus de Trípoli, que possuíam passaportes italianos, conheciam a língua e que por isso conseguiram se integrar facilmente na comunidade judaica local. Em Milão chegaram os judeus egípcios, sírios, libaneses, iraquianos e persas, que acostumados a viver apartados em suas cidades árabes, sentiram dificuldades de se adaptaram ao lugar e à comunidade local e mantiveram seus próprios costumes e rituais, frequentando sinagogas separadas, continuando a falar francês e persa.

 

Características peculiares dos judeus italianos

 

O historiador Amos Luzzatti, afirma que o judaísmo italiano não é askenazita, nem sefardita, tampouco é italiano, mas foi um Kibutz Galuiot, ou seja, um agrupamento de muitas diásporas diferentes que o caracterizou em vários aspectos.

Os judeus italianos, os “remanescentes” como os chama a professora Anita Novinsky, chamam-se EBREI (como somente na Rússia ) e não JUDEI. Foram chamados de ISRAELITI em 1848 enquanto com a emancipação a única diferencia entre os outros cidadãos era a religião de Israel (UCCI). Palavra usada hoje somente no seu significado religioso (UCEI).

Nas falas judeu-italianas encontram-se ambos os termos Ebrei e Judei.

Os sobrenomes dos judeus italianos podem ser nomes de cidades italianas (Milano, Perugia, Campagnano), sobrenomes espanhóis geográficos

(Franco, Segre, Navaro), espanhóis da alta nobreza (Fernandez, Diaz), sobrenomes que foram emprestados para disfarçar a origem judaica dos cristãos novos. Alguns sobrenomes remontam às antigas famílias nobres israelitas da Judeia como os min-há- Zequenin (dei Vecchi, del Vecchio), min-há Anawim (Anav, Anaw, Anau), os min-há- Adumin (de Rossi), min-há- Ne’arim (De Fanciulli) e os min-há- Tappuchim (De Pomis). Temos sobrenomes alemães, alguns  dos quais italianizados (Tedeschi, Esquenazi). Outros derivam de livros sagrados, das profissões, dos verbos etc. Muitos sobrenomes tem brasões de família usados nas Ketuboth, capas de livros, e túmulos, estes brasões não eram usados como símbolos de nobreza mas relativos as profissões exercidas.  

Os remanescentes italianos usam um particular ritual de reza chamado “dos filhos de Roma” (bnei’Romi) e nas sinagogas de rito italiano existe uma disposição bipolar do Aron (arca das Thoras)  e da Thevá (púlpito). Algumas rezas são deslocadas respeito às sefarditas e askenazitas, e os cantos têm uma musicalidade própria.

A pronuncia do hebraico em italiano tem aspectos peculiares, e não era comum o uso da língua íidiche. Os judeus, nas longas épocas dos guetos, falavam o dialeto local ao qual intercalavam palavras hebraicas, dialetos de lugares diferentes dos quais provinham, ladinas, espanholas ou portuguesas (bagitto de Livorno, guetaiuolo de Ferrara e Veneza, romanesco de Roma) constituindo assim grupos de linguagens diferentes ao ponto que os que falavam dialetos diversos não se entendiam entre sim.

O processo de italianização não impediu porém aos judeus italianos de conservar, em parte, as próprias peculiaridades étnicas e religiosas.

 

Surgimento do fascismo

 

A Crise social e política do pós-guerra foi particularmente grave na Itália. Uma onda de agitações sociais entre 1919 e 20 não encontrou um guia político eficaz no partido socialista, dividido em correntes contrastantes.

O movimento que adquiriu maior influencia na época foi o dos Faxes de Combate, fundado em março de 1919 por Benito Mussolini que recolheu extremistas de esquerda e de direta e variados elementos desordeiros.

Com a Márcia sobre Roma, com a aprovação silenciosa do Rei Emanuele IIIº, Mussolini constituiu um governo ao qual participaram alguns liberalistas e populistas.

Entre 1925 e 1926 foram emanadas umas series de disposições que marcaram a instauração de um Estado totalitário fundado em um único partido. E foi criada a figura do 1º ministro, responsável somente para o rei.

1.     Em 11 de fevereiro de 1929, sob o pontificado de Pio XI, foram assinados os pactos de Latrão entre a Santa Se, representada pelo Cardeal Gasparri e Benito Mussolini. Sendo estes uma serie di accordi :un Trattato politico, una Convenzione finanziaria e un Concordato) . Com tudo isso a religião católica tornou-se a ser religião do Estado, sendo restaurada assim a primeira diferencia de direitos civis com os judeus.

 

PORQUE MUSSOLINI TORNOU-SE RACISTA (POR DE FELICE)

 Queria ser racista para conseguir estes objetivos:

 

- dar ao fascismo um dinamismo maior

- conquistar a amizade da Alemanha e de Hitler em particular

- pôr em evidencia a diferença entre o racismo italiano e o alemão: “discriminar, mas

  não perseguir ”.

- regular as posições dos italianos na África para evitar o mestiçado.

 

PORQUE SURGIU O ANTISEMITISMO  (por DE FELICE)

- Porque a tradição católica clássica era ainda viva e as Leis Raciais a reforçaram

- sobre esta tradição inseriu-se uma dupla variante estético - literária - política e de  importação que adquiriu um peso importante.

 

 

PORQUE UM GRANDE NUMERO DE JUDEUS ERA FASCISTA ANTES DAS LEIS RACIAIS.

 

Quando foi feita a Unidade da Itália, iniciada com as lutas do Ressurgimento (1848-1861) às quais participaram os judeus como entusiastas patriotas, os judeus se apegaram ao Estado Italiano e participaram do seu destino.

Este apegamento chegou a assumir até formas de repudio da própria identidade judaica, como se ser judeus demonstrasse não ser completamente italianos e quando surgiu o sionismo os judeus foram completamente contra com medo de serem acusados de uma dupla nacionalidade. (O sionismo era bom para os correligionários da Europa oriental que sofriam perseguições, mas não por eles que tinham uma pátria como a Itália).

Do ponto de vista material, a assimilação levou os judeus a três tipos de comportamentos:

- casamentos mistos

- abjuras

- dissociações das comunidades às quais pertenciam

 

O escritor D. Prato afirma que: “No fim de 1800 a Itália judaica tinha perdido todos os contactos com o judaísmo europeu e mundial, era como um compartimento estagno, um órgão avulso da grande Diáspora  Ocidental e Oriental onde pulsava a vida tradicional e cultural judaica e onde estava surgindo o sionismo Os judeus da Itália, consideravam-se fechado nos limites do país no qual moravam e, inebriados por seus sucessos na política, nas ciências, industrias, artes e jornalismo, iam verso a mais completa assimilação, abrindo a estrada para as gerações futuras ao absorvimento   e à anulação de si mesmos. A voz dos rabinos tornou-se fraca e não saia da sinagoga, dissertada em quase todos os lugares e muitas vezes deixada à vontade dos conselhos administrativos das Comunidades, composta por assimilados e assimiladores.”

 

A estrutura social, que foi característica do judaísmo durante o período da reclusão nos guetos, se desfez rapidamente ao contacto com as instituições liberais. Diminuiu ou desapareceu o sentimento religioso que por séculos tinha constituído um elemento de força e de coesão da comunidade judaica.. Com isso o processo de assimilação generalizou-se no tempo depois de ter se limitado as classe sociais mais elevadas, cultas e ricas.

O antissemitismo era pouco difundido no povo italiano. O antissemitismo clássico é determinado por motivos religiosos e econômicos. Os dois motivos não existiam na Itália: os religiosos porque os judeus não o eram mais ou muito pouco; os econômicos também, porque os judeus eram pouco numerosos e não podiam alcançar grandes patrimônios.

- dispersão dos judeus nos partidos políticos italianos de todas as tendências e, como tal, seus comportamentos verso o fascismo não como judeus, mas como italianos.

 

Quanto ao sionismo:

 

- Mussolini era totalmente contra ao sionismo interno

- Na política exterior era totalmente a favor do sionismo, porque este poderia criar dificuldade no Oriente Médio à Inglaterra.

 

Renzo De Felice

 

PRESENÇA DOS JUDEUS NA ITALIA CONFORME OS DADOS OFICIAIS DOS CENSOS:

 

1911                  32.825

1931                  39.112

1938                  47252

 

IDEM CONFORME DADOS ESTATISTICOS ELABORADOS PELA DEMORAZZA EM 1938

 

CAPITAIS                       J. ITALIANOS  41.224     J. EXTRANGEIROS 7.767                

OUTRAS CIDADES                                    4.137                                         1.975

 

 

Total nas capitais                                           48.991

Total nas outras cidades                                  6.112

Total                                                               55.103

 

Cidades com o maior numero de judeus:

Trieste – Livorno – Roma – Milão – Veneza – Turim – Ancona – Florença – Genova – Ferrara



[1] Judeus já se encontravam na Itália, especialmente em Roma, por motivos comerciais e culturais vindo da Palestina ou da Manha Grécia.
[2] O Imperador Vespasiano e seu filho Tito  trouxeram para Roma milhares de prisioneiros judeus. Alguns foram vendidos como escravos e resgatados pelos próprios judeus que moravam na cidade, enquanto outros se concentraram em Roma entre o bairro de Trastevere e da Ilha Ponentina.  Em honra da conquista da Judeia Tito mandou a construir um arco com inciso os símbolos judaicos, como a menorah e a escrita em latim Judeia Capta. Os judeus nunca passaram debaixo deste arco até a formação do Estado de Israel. Este momento foi um ato muito comovente, especialmente quando sobreviventes do Holocausto passaram de baixo dele.

Nenhum comentário:

Postar um comentário