PALESTRA
do dia 4 de outubro na FISESP
Quando
falamos da Itália, é preciso lembrar que sua história é muito complexa. Com a
queda do Império Romano do Ocidente, em 476, a península italiana perdeu sua
unidade política e ressurgiu como Estado nacional somente em 1861. Assim por
1300 anos a península italiana ficou dividida em diferentes Estados que
alternavam seus governantes conforme os povos que a conquistavam. Os maiores
conquistadores foram os Alemães, Austríacos e Franceses no Centro-Norte, e Normandos,
Árabes e Espanhóis no Sul e nas Ilhas.
A
comunidade judaica italiana veio se formando pela união de vários núcleos
judaicos que chegaram ao país em épocas diferentes.
O
primeiro núcleo foi constituído por judeus que
viviam em Roma e no Sul da península antes da destruição do Templo de Jerusalém
no ano 70[1]. O segundo era
composto por judeus que foram levados a Roma por causa desta destruição[2].
Um
terceiro núcleo formou-se na Idade Media, no
norte da Península, com a chegada de dois grupos minoritários: um proveniente
de países de língua alemã, dos quais os judeus eram sistematicamente banidos,
devido às Cruzadas e à Peste Negra (1348), e outro proveniente da França, em
virtude das expulsões decretadas nos anos de 1306 e 1394, e que se estabeleceu
nos territórios do Piemontês. A estes dois grupos uniu-se um grupo de
banqueiros judeus, provindo do Lazio, Úmbria, Toscana, Marque e Emilia- Romanha,
que saiam de seus Estados devido à uma
significativa queda de vida nestas regiões.
No
século XVI, judeus sefarditas expulsos da Espanha em 1492, por recusar o
batismo, e de cristãos novos, fugitivos do Portugal em 1497 chegaram a Livorno
constituindo o quarto núcleo. A estes se
juntaram outros judeus sefarditas que, pelas mesmas razões, tinham-se recados
nas florescentes comunidades de Amsterdam e Hamburgo, perseguidos pela Inquisição.
Estes se dirigiram, a Livorno, no Ducado D’Este em Ferrara, nos Estados de
Reggio Emilia e Modena. Para muitos destes sefarditas, porém, a península
italiana serviu como ponte para alcançar, mais tarde, outras regiões na costa
norte da África e o Império Otomano.
É
preciso lembrar também que, com a Revolução Francesa (1789-1790) – movimento
social e político ocorrido no final do século XVIII que teve por objetivo
principal derrubar o Antigo Regime e instaurar um Estado Democrático - os judeus europeus adquiriram o estatuto
jurídico e assim, muitos judeus do Império Otomano, onde apesar de ser
respeitados, eram considerados cidadãos de segunda classe, voltaram para Europa
e na Itália constituíram o quinto grupo.
Mias
tarde, com a anexação de Triste, Gorizia, Merano e Fiume ao Reino da Itália, em
consequência da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), formou-se um sexto grupo de judeus provenientes das diversas
regiões da Europa como Áustria, Alemanha, Hungria, Polônia e a Ilha de Corfú.
Com
a criação do Estado de Israel, em 1948, e as sucessivas guerras árabes-israelenses,
os judeus que viviam nos países árabes há vários séculos, foram obrigados a
fugir por serem considerados “inimigos sionistas”. Milhares destes judeus se
refugiaram na Itália formando assim um sétimo
núcleo. Em Roma se transferiram especialmente os judeus de Trípoli, que
possuíam passaportes italianos, conheciam a língua e que por isso conseguiram
se integrar facilmente na comunidade judaica local. Em Milão chegaram os judeus
egípcios, sírios, libaneses, iraquianos e persas, que acostumados a viver
apartados em suas cidades árabes, sentiram dificuldades de se adaptaram ao
lugar e à comunidade local e mantiveram seus próprios costumes e rituais,
frequentando sinagogas separadas, continuando a falar francês e persa.
Características
peculiares dos judeus italianos
O
historiador Amos Luzzatti, afirma que o judaísmo italiano não é askenazita, nem
sefardita, tampouco é italiano, mas foi um Kibutz
Galuiot, ou seja, um agrupamento de muitas diásporas diferentes que o
caracterizou em vários aspectos.
Os
judeus italianos, os “remanescentes” como os chama a professora Anita Novinsky,
chamam-se EBREI (como somente na Rússia ) e não
JUDEI. Foram chamados de ISRAELITI em 1848 enquanto com a emancipação a única
diferencia entre os outros cidadãos era a religião de Israel (UCCI). Palavra
usada hoje somente no seu significado religioso (UCEI).
Nas
falas judeu-italianas encontram-se ambos os termos Ebrei e Judei.
Os
sobrenomes dos judeus italianos podem ser nomes
de cidades italianas (Milano, Perugia, Campagnano), sobrenomes espanhóis geográficos
(Franco,
Segre, Navaro), espanhóis da alta nobreza (Fernandez, Diaz), sobrenomes que
foram emprestados para disfarçar a origem judaica dos cristãos novos. Alguns
sobrenomes remontam às antigas famílias nobres israelitas da Judeia como os min-há- Zequenin (dei Vecchi, del
Vecchio), min-há Anawim (Anav, Anaw, Anau), os min-há-
Adumin (de Rossi), min-há- Ne’arim (De Fanciulli) e os min-há- Tappuchim (De Pomis). Temos
sobrenomes alemães, alguns dos quais italianizados
(Tedeschi, Esquenazi). Outros derivam de livros sagrados, das profissões, dos
verbos etc. Muitos sobrenomes tem brasões de família usados nas Ketuboth, capas
de livros, e túmulos, estes brasões não eram usados como símbolos de nobreza
mas relativos as profissões exercidas.
Os
remanescentes italianos usam um particular ritual de reza chamado “dos filhos
de Roma” (bnei’Romi) e nas sinagogas de
rito italiano existe uma disposição bipolar do Aron (arca das Thoras) e da Thevá (púlpito). Algumas rezas são
deslocadas respeito às sefarditas e askenazitas, e os cantos têm uma
musicalidade própria.
A
pronuncia do hebraico em italiano tem aspectos peculiares, e não era comum o
uso da língua íidiche. Os judeus, nas longas épocas dos guetos, falavam o
dialeto local ao qual intercalavam palavras hebraicas, dialetos de lugares
diferentes dos quais provinham, ladinas, espanholas ou portuguesas (bagitto de Livorno, guetaiuolo de Ferrara e Veneza, romanesco de Roma) constituindo
assim grupos de linguagens diferentes ao ponto que os que falavam dialetos
diversos não se entendiam entre sim.
O
processo de italianização não impediu porém aos judeus italianos de conservar,
em parte, as próprias peculiaridades étnicas e religiosas.
Surgimento
do fascismo
A
Crise social e política do pós-guerra foi particularmente grave na Itália. Uma
onda de agitações sociais entre 1919 e 20 não encontrou um guia político eficaz
no partido socialista, dividido em correntes contrastantes.
O
movimento que adquiriu maior influencia na época foi o dos Faxes de Combate, fundado em março de 1919 por Benito Mussolini que
recolheu extremistas de esquerda e de direta e variados elementos desordeiros.
Com
a Márcia sobre Roma, com a aprovação silenciosa do Rei Emanuele IIIº, Mussolini
constituiu um governo ao qual participaram alguns liberalistas e populistas.
Entre
1925 e 1926 foram emanadas umas series de disposições que marcaram a
instauração de um Estado totalitário fundado em um único partido. E foi criada
a figura do 1º ministro, responsável somente para o rei.
1.
Em 11 de fevereiro de
1929,
sob o pontificado de Pio XI, foram assinados os pactos de Latrão entre a Santa
Se, representada pelo Cardeal Gasparri e Benito Mussolini. Sendo estes uma serie di accordi :un Trattato politico, una Convenzione
finanziaria e un Concordato) . Com tudo isso a
religião católica tornou-se a ser religião do Estado, sendo restaurada assim a
primeira diferencia de direitos civis com os judeus.
PORQUE
MUSSOLINI TORNOU-SE RACISTA (POR DE FELICE)
Queria ser racista para conseguir estes
objetivos:
-
dar ao fascismo um dinamismo maior
-
conquistar a amizade da Alemanha e de Hitler em particular
-
pôr em evidencia a diferença entre o racismo italiano e o alemão: “discriminar,
mas
não perseguir ”.
-
regular as posições dos italianos na África para evitar o mestiçado.
PORQUE
SURGIU O ANTISEMITISMO (por DE FELICE)
-
Porque a tradição católica clássica era ainda viva e as Leis Raciais a reforçaram
-
sobre esta tradição inseriu-se uma dupla variante estético - literária -
política e de importação que adquiriu um
peso importante.
PORQUE
UM GRANDE NUMERO DE JUDEUS ERA FASCISTA ANTES DAS LEIS RACIAIS.
Quando
foi feita a Unidade da Itália, iniciada com as lutas do Ressurgimento (1848-1861)
às quais participaram os judeus como entusiastas patriotas, os judeus se
apegaram ao Estado Italiano e participaram do seu destino.
Este
apegamento chegou a assumir até formas de repudio da própria identidade
judaica, como se ser judeus demonstrasse não ser completamente italianos e
quando surgiu o sionismo os judeus foram completamente contra com medo de serem
acusados de uma dupla nacionalidade. (O sionismo era bom para os
correligionários da Europa oriental que sofriam perseguições, mas não por eles
que tinham uma pátria como a Itália).
Do
ponto de vista material, a assimilação levou os judeus a três tipos de
comportamentos:
-
casamentos mistos
-
abjuras
-
dissociações das comunidades às quais pertenciam
O
escritor D. Prato afirma que: “No fim de
1800 a Itália judaica tinha perdido todos os contactos com o judaísmo europeu e
mundial, era como um compartimento estagno, um órgão avulso da grande Diáspora Ocidental e Oriental onde pulsava a vida
tradicional e cultural judaica e onde estava surgindo o sionismo Os judeus da
Itália, consideravam-se fechado nos limites do país no qual moravam e,
inebriados por seus sucessos na política, nas ciências, industrias, artes e
jornalismo, iam verso a mais completa assimilação, abrindo a estrada para as
gerações futuras ao absorvimento e à anulação de si mesmos. A voz dos rabinos
tornou-se fraca e não saia da sinagoga, dissertada em quase todos os lugares e
muitas vezes deixada à vontade dos conselhos administrativos das Comunidades,
composta por assimilados e assimiladores.”
A
estrutura social, que foi característica do judaísmo durante o período da
reclusão nos guetos, se desfez rapidamente ao contacto com as instituições
liberais. Diminuiu ou desapareceu o sentimento religioso que por séculos tinha
constituído um elemento de força e de coesão da comunidade judaica.. Com isso o
processo de assimilação generalizou-se no tempo depois de ter se limitado as
classe sociais mais elevadas, cultas e ricas.
O
antissemitismo era pouco difundido no povo italiano. O antissemitismo clássico
é determinado por motivos religiosos e econômicos. Os dois motivos não existiam
na Itália: os religiosos porque os judeus não o eram mais ou muito pouco; os
econômicos também, porque os judeus eram pouco numerosos e não podiam alcançar
grandes patrimônios.
-
dispersão dos judeus nos partidos políticos italianos de todas as tendências e,
como tal, seus comportamentos verso o fascismo não como judeus, mas como
italianos.
Quanto
ao sionismo:
-
Mussolini era totalmente contra ao sionismo interno
-
Na política exterior era totalmente a favor do sionismo, porque este poderia
criar dificuldade no Oriente Médio à Inglaterra.
Renzo
De Felice
PRESENÇA
DOS JUDEUS NA ITALIA CONFORME OS DADOS OFICIAIS DOS CENSOS:
1911 32.825
1931 39.112
1938 47252
IDEM
CONFORME DADOS ESTATISTICOS ELABORADOS PELA DEMORAZZA EM 1938
CAPITAIS J. ITALIANOS 41.224
J. EXTRANGEIROS 7.767
OUTRAS
CIDADES
4.137 1.975
Total
nas capitais
48.991
Total
nas outras cidades 6.112
Total
55.103
Cidades
com o maior numero de judeus:
Trieste
– Livorno – Roma – Milão – Veneza – Turim – Ancona – Florença – Genova –
Ferrara
[1]
Judeus já se encontravam na Itália, especialmente em Roma, por motivos
comerciais e culturais vindo da Palestina ou da Manha Grécia.
[2] O Imperador
Vespasiano e seu filho Tito trouxeram
para Roma milhares de prisioneiros judeus. Alguns foram vendidos como escravos
e resgatados pelos próprios judeus que moravam na cidade, enquanto outros se
concentraram em Roma entre o bairro de Trastevere e da Ilha Ponentina. Em honra da conquista da Judeia Tito mandou a
construir um arco com inciso os símbolos judaicos, como a menorah e a escrita
em latim Judeia Capta. Os judeus nunca passaram debaixo deste arco até a
formação do Estado de Israel. Este momento foi um ato muito comovente,
especialmente quando sobreviventes do Holocausto passaram de baixo dele.